segunda-feira, 18 de maio de 2009

leitura complementar à aula 04

Gêneros literários

A LITERATURA É A ARTE QUE SE MANIFESTA PELA PALAVRA, SEJA ELA FALADA OU ESCRITA. Quanto à forma, o texto pode apresentar-se em prosa ou verso. Quanto ao conteúdo, estrutura, e segundo os clássicos, conforme a "maneira de imitação", podemos enquadrar as obras literárias em três gêneros:

· Lírico: quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado; centra-se no mundo interior do Poeta apresentando forte carga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica marcante do lírico. O Poeta posiciona-se em face dos "mistérios da vida". A lírica já foi definida como a expressão da "primeira pessoa do singular do tempo presente".(*)

· Dramático: quando os "atores, num espaço especial, apresentam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento". Retrata, fundamentalmente, os conflitos humanos.(*)

· Épico: quando temos uma narrativa de fundo histórico; são os feitos heróicos e os grandes ideais de um povo o tema das epopéias. O narrador mantém um distanciamento em relação aos acontecimentos (esse distanciamento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: (os fatos narrados situam-se no passado). Temos um Poeta-observador voltado, portanto, para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. A objetividade é característica marcante do gênero épico. A épica já foi definida como a poesia da "terceira pessoa do tempo passado".

Esta divisão tradicional em três gêneros literários originou-se na Grécia clássica, com Aristóteles, quando a poesia era a forma predominante de literatura. Por nos parecer mais didática, adotamos uma divisão em quatro gêneros literários, desmembrando do épico o gênero narrativo (ou, como querem alguns, a ficção), para enquadrar as narrativas em prosa.(*)

Poderíamos reconhecer ainda o gênero didático, despido de ficção e não identificado com a arte literária; segundo Wolfang Kayser, "o didático costuma ser delimitado como gênero especial, que fica fora da verdadeira literatura".

Gênero Lírico

Seu nome vem de lira, instrumento musical que acompanhava os cantos dos gregos. Por muito tempo, até o final da Idade Média, as poesias eram cantadas; separando-se o texto do acompanhamento musical, a poesia passou a apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, a métrica (a medida de um verso, definida pelo número de sílabas poéticas), o ritmo das palavras, a divisão em estrofes, a rima, a combinação das palavras foram elementos cultivados com mais intensidade pelos poetas.

Mas, cuidado! O que foi dito acima não significa que poesia, para ser poesia, precise, necessariamente, apresentar rima, métrica, estrofe. A poesia do Modernismo, por exemplo, desprezou esses conceitos; é uma poesia que se caracteriza pelo verso livre (abandono da métrica), por estrofes irregulares e pelo verso branco, ou seja, o verso sem rima. O que, também, não impede que "subitamente na esquina do poema, duas rimas se encontrem, como duas irmãs desconhecidas..."

Gênero Dramático

Drama, em grego, significa "ação". Ao gênero dramático pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Isso significa que entre autor e público desempenha papel fundamental o elenco (incluindo diretor, cenógrafo e atores) que representará o texto.

O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:

· Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era "uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror".(*)

· Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua origem grega está ligada às festas populares, celebrando a fecundidade da natureza.(*)

· Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.(*)

· Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que crítica a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores (Rindo, castigam-se os costumes). (*)

Gênero Épico

A palavra "epopéia" vem do grego épos, ‘verso’+ poieô, ‘faço’ e se refere à narrativa em forma de versos, de um fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja característica maior é a presença de um narrador falando do passado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um episódio grandioso e heróico da história de um povo.

Dentre as principais epopéias (ou poemas épicos), destacamos:

Ilíada e Odisséia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre Grécia e Tróia).

Eneida (Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos)

Paraíso Perdido (Milton, Inglaterra)

Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itália)

Os Lusíadas (Camões, Portugal)

Na literatura brasileira, as principais epopéias foram escritas no século XVIII:

Caramuru (Santa Rita Durão)

O Uraguai (Basílio da Gama)

Gênero Narrativo

O Gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance, a novela e o conto. (*)

Em qualquer das três modalidades acima, temos representações da vida comum, de um mundo mais individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses.

As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento desde o final do século XVIII, são também comumente chamadas de narrativas de ficção.

· Romance: narração de um fato imaginário, mas verossímil, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo da vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com passagem mais lenta do tempo. Dependendo da importância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao espaço, podemos ter romance de costumes, romance psicológico, romance policial, romance regionalista, romance de cavalaria, romance histórico, etc.(*)

· Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distinção entre novela e romance é quantitativa: vale a extensão ou o número de páginas. Entretanto, podemos perceber características qualitativas: na novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limitado da vida, a passagem do tempo é mais rápida, e o que é mais importante, na novela o narrador assume uma maior importância como contador de um fato passado.(*)

· Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um episódio da vida. O crítico Alfredo Bosi, em seu livro O conto brasileiro contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto "já desnorteou mais de um teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto no interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu espaço todas as possibilidades da ficção".(*)

· Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como objetivo transmitir uma lição moral. Normalmente a fábula trabalha com animais como personagens. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo. (*)

A fábula é das mais antigas narrativas, coincidindo seu aparecimento, segundo alguns estudiosos, com o da própria linguagem. No mundo ocidental, o primeiro grande nome da fábula foi Esopo, um escravo grego que teria vivido no século VI a.C. Modernamente, muitas das fábulas de Esopo foram retomadas por La Fontaine, poeta francês que viveu de 1621 a 1695. O grande mérito de La Fontaine reside no apurado trabalho realizado com a linguagem, ao recriar os temas tradicionais da fábula. No Brasil, Monteiro Lobato realizou tarefa semelhante, acrescentando, às fábulas tradicionais, curiosos e certeiros comentários dos personagens que viviam no Sítio do Picapau Amarelo.

leitura complementar: ortografia













domingo, 17 de maio de 2009

aula 04: genero literário - épico e lírico

O gênero épico (narrativo)

Todos os povos tem as suas narrativas. A forma como as organizam pode variar, os meios através dos quais circulam podem ser diferentes, mas o fato é que contar histórias parece ser uma atividade própria da natureza humana.

Dos poemas orais ao romance contemporâneo, a literatura registra a trajetória das narrativas e seu estudo nos ajuda a compreender as mudanças formais e de conteúdo por que passaram.

As narrativas mais antigas apresentam uma característica comum: todas contam os feitos extraordinários de um herói.

>>> Os longos poemas narrativos, em que um acontecimento histórico protagonizado por um herói é celebrado em estilo solene, grandioso, são chamados de épicos ou epopeias. O temo deriva do grego épos, dentre os seus significados, que dizer palavra, verso, discurso.

Observe a cena de abertura da Odisseia, podemos identificar algumas das características típicas da épica:

Musa, reconta-se os feitos do herói astucioso que muito
peregrinou, dês que esfez as muralhas sagradas de Troia;
muitas cidades dos homens viajou, conheceu seus costumes,
como no mar padeceu sofrimentos inúmeros na alma,
para que a vida salvasse e de seus companheiros a volta.
(Homero, Odisseia.)

O poeta pede inspiração as musas para contar a história de um herói, Odisseu (também chamado de Ulisses), que peregrinou por muitas cidades e sofreu terríveis provocações desde que desfez as muralhas sagradas de Troia. Aí sua superioridade diante de outros homens.
A estrutura do poema épico

Toda epopeia apresenta uma organização interna. Como se trata de um poema longo, a epopeia é dividida em várias partes, denominadas cantos. Na estrutura da epopeia, os cantos são organizado de modo a cumpir funções preestabelecidas:
Proposição: o poeta define o tema e o herói de seu poema.
Invocação:o poeta pede a musa ( divindade inspiradora da poesia) que lhe inspire, para desenvolver com maestria o tema de seu poema.
Narração: o poeta narra as aventuras de seu herói.
Conclusão: o poeta encerra sua narrativa, após relatar os feitos gloriosos que marcaram a trajetória de seu herói.

O genero lírico

Na Grécia Antiga, as epopeias cumpriram um importante papel de divulgar os ideais e valores que organizavam a vida na polis (em grego, cidade ou estado). Os poemas épicos, porém, não respondiam ao anseio humano de expressão individual e subjetiva.

A poesia lírica surge como uma forma de atender a esse anseio. Ela se define pela expressão de sentimentos e emoções pessoais. Uma outra marca característica de sua estrutura é o fato de dar voz a um sujeito lírico, diferente da narração impessoal própria da épica.

Em uma tentativa de explicar a relação entre poesia e a expressão de sentimentos, o poeta norte-americano Robert Frost dizia que o poema nasce de um nó na garganta, de um sentimento de que algo está errado, das saudades de casa, das amarguras do amor, para ganhar forma no pensamento, que encontra as palavras exatas para expressá-lo.

As primeiras manifestações líricas

No início, os poemas líricos eram cantados, geralmente acompanhados pela lira, um instrumento musical de cordas. Foi do nome desse instrumento que derivou a denominação do gênero literário como lírico.

A separação entre poesia e música só aconteceu depois da invenção da imprensa, no século XV, quando a cultura escrita passou a prevalecer sobre cultura oral. É por essa razão que, para os antigos, a lírica é sempre associada a música e ao canto, enquanto, para os modernos ela se define essencialmente pela expressão subjetiva.

Embora vários poetas da Antiguidade tenham se dedicado tenham se dedicado à composição de poemas líricos, esse gênero literário não era tão valorizado quanto o épico ou o dramático.

Foi somente no Renascimento italiano que a poesia de expressão subjetiva ganhou o renascimento equivalente ao dos demais gêneros. Isso aconteceu quando o gosto do público leitor foi conquistado pela poesia amorosa de Petrarca e seus seguidores. Desse momento em diante, consolidou-se a identificação da lírica como um dos três grandes gêneros literário.
Formas da lírica

Desde o nascimento da lírica, vários foram as estruturas utilizadas na composição de poemas. Algumas se tornaram mais conhecidas, uma vez que permaneceram em uso ao longo dos séculos. São elas:

A elegia: poema surgido na Grécia Antiga que trata de acontecimentostristes, muitas vezes enfocando a morte de um querido ou de alguma personalidade pública.
A écloga: poema pastoril que retrata a vida bucólica dos pastores, em um ambiente campestre.
A ode: poema também originado na Grécia Antiga que exalta valores nobres, caracterizando-se pelo tom de louvação.
O soneto: a mais conhecida das formas líricas. Poema de 14 versos, organizados em duas estrofesde quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (terceto).

Recursos poéticos

Quando lemos um texto, nossa atenção costuma se voltar para o sentido das palavras. Ao fazer isso, analisamos seu aspecto semântico. As palavras, porém, também têm uma sonoridade muito explorada pela literatura. Essa sonoridade é a base para a construção de recursos poéticos, como ritmo, o metro e a rima.

Ritmo pode ser definido como um movimento regular, repetitivo. Na música, é a sucessão de tempos fortes e fracos que estabelece o ritmo. Na poesia, ele é marcadoprincipalmente pela alternância entre acentos (sílabas átonas/tônicas) e pausas.

O metro é o número de sílabas métricas de um verso. A contagem dessas silabas chama-se metrificação. Quando contamos sílabas em um verso, não devemos considerar as que ocorrem após uma sílaba tônica do verso.

Rima é a coincidência ou a semelhança de sons a partir da vogal tônicano fim dos versos.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

atividade 03 - linguagem literária

Literatura é uma linguagem

O texto a seguir serve de base para as questões a, b e c.

O rio e o tempo

Mariano, o narrador protagonista do romance Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, relembra com carinho a presença poética de Juca Sabão, seu primeiro mestre na vida e no viver.

“Juca Sabão era para mim uma espécie de primeiro professor, para além da minha família. Foi ele que me levou ao rio, me ensinou a nadar, a pescar, me encantou de mil lendas. [...]
As lembranças me surgem velozes como nuvens. Recordo aquela vez em que Sabão se encomendou de uma expedição: queria subir o rio até à nascente. Ele desejava decifrar os primórdios da água, ali onde a gota engravida [...]. Juca sabão muniu-se de mantimentos e encheu a canoa com os mais estranhos e desnecessários acessórios, desde bandeiras a cornetas. Demorou umas tantas semanas. Regressou e fui o primeiro a recebê-lo, nas escadas do cais. Olhou-me, cansado, e disse:
— O rio é como o tempo!
Nunca houve princípio, concluía. O primeiro dia surgiu quando o tempo já há muito se havia estreado. Do mesmo modo, é mentira haver fonte do rio. A nascente é já o vigente rio, a água em flagrante exercício.
— O rio é uma cobra que tem a boca na chuva e a cauda no mar.
Assim proferindo, Juca Sabão me pediu que me aproximasse. Seus dedos me fecharam as pálpebras como se faz aos falecidos. Certas coisas vemos melhor é com os olhos fechados. [...]”
Mia Couto. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

a) O trabalho com a linguagem literária, nesse texto, caracteriza-se pelo uso de comparações e metáforas.
▪ Identifique os trechos em que ocorrem comparações.
▪ Faça o mesmo com as metáforas.

b) Explique de que maneira a presença das comparações e metáforas no texto desencadeia, no leitor, uma percepção de natureza mais sensorial.

c) Releia a seguinte passagem: “Certas coisas vemos melhor é com os olhos fechados.”
▪ A linguagem foi utilizada, aqui, para fazer referência a algo aparentemente impossível. Na verdade, o narrador cria uma bela imagem ao recorrer a uma figura de linguagem denominada paradoxo. O que o narrador quer dizer com a imagem criada? Explique.


quarta-feira, 6 de maio de 2009

aula 03: a linguagem da literatura

A linguagem da literatura

A essência da arte literária está na palavra. Usada por escritores e poetas em todo o seu potencial significativo e sonoro, a palavra estabelece uma interessante relação entre um autor e seus leitores/ouvintes.

Denotação e Conotação
O sentido conotativo (ou figurado) é aquele que as palavras e expressões adquirem em um dado contexto, quando o sentido literal é modificado. Nos textos literários, predomina o sentido conotativo. A linguagem conotativa é característica de textos com função estética, ou seja, que exploram diferentes recursos linguísticos e estilísticos para produzir um efeito artístico.

Em textos não-literários, o que predomina é o sentido denotativo (ou literal). Dizemos que a palavra foi utilizada em sentido literal quando é tomada em seu significado básico.

O poder de explorar sentido
Quando as palavras assumem no texto literário diferentes significados, dizemos que ocorre um processo de plurissignificação

Observe o poema:

Profundamente
[…]
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje eu não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onda estão todos eles?

_ Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
(Manuel Bandeira)

Recursos da linguagem literária: o poder das imagens
Picasso, Vaso com flores, guache sobre papel. Nessa obra, a beleza se equilibra em um objeto bastante cotidiano, representado com economia de cores e traços. E prova como a beleza pode mesmo estar nas coisas mais simples.
A literatura propõe aos leitores um “novo olhar” para coisas, acontecimentos e sentimentos conhecidos.
Como caracterizar um “novo” olhar para algo que existe há muito tempo ou que é muito familiar? A resposta, mais uma vez, está na linguagem.
Observe:
Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento
(Adélia Prado)

No poema, o significado de trem de ferro vai além da sua descrição funcional (“coisa mecânica): ele representa as chegadas e partidas, traz ou leva pessoas de quem gostamos muito e, assim, “atravessa” a vida das pessoas, transforma-se em sentimento.

A imagem final do poema revela a sensibilidade que marca o olhar do artista e lhe dá condições para reconhecer, no mundo à sua volta, a beleza presente nas coisas mais simples. Encontrando as palavras adequadas, ele registrando texto a beleza que reconheceu e propõe ao leitor que percorra o mesmo caminho.

Desta forma , podemos concluir que a literatura cria as condições para que também nós, leitores, olhemos de modo inovador para o mundo e, ao fazer isso, reconheçamos uma beleza que, a primeira vista, não pareceu estar ali.

Comparações: a concretização de emoções
As comparações são um importante recurso do texto literário. Por meio delas, os escritores procuram traduzir certas emoções, certos modos de ver e sentir.

Madrigal
Meu amor é simples, Dora,
Como a água e o pão.

Como o seu refletido
Nas pupilas de um cão.
(José Paulo Paes)

Para definir o seu amor por Dora, o eu lírico recorre à semelhança entre esse sentimento e dois alimentos vitais para os seres humanos: o pão e a água. A aproximação entre o amor, o pão e a água sugere que esse sentimento é tão essencial para o eu lírico quanto os alimentos mais básicos.

Metáforas: afirmação de semelhanças inusitadas
Em grego, o termo metaphorá significa mudança, transposição. Na origem das metáforas, portanto, existe um processo de substituição: aproximam-se dois elementos que, em um contexto específico, guardam alguma relação de semelhança, transferindo-se, para um deles, características do outro.

Livre-arbítrio
Todo mundo é toureiro.
Cada um escolhe o
touro que quiser na vida.
O toureiro escolheu o
próprio
touro.
(Cacaso)

O título do poema, “livre-arbítrio”, faz referência ao direito de escolher nosso próprio caminho. No texto, essa idéia é associada às dificuldades que o caminho escolhido nos impõe.
Quando afirma que “todo mundo é toureiro”, Cacaso transfere para as pessoas um comportamento típico de quem enfrenta touros em uma arena: passar todo o tempo tentando evitar os “ataques” do inimigo, enquanto se procura derrotá-lo.
Assim, o poema afirma uma semelhança entre a ação de um toureiro e o modo como as pessoas enfrentam seus enfrentam seus problemas e desafios. A análise dos dois comportamentos revela a substituição que está na origem dessa metáfora.

domingo, 3 de maio de 2009

atividade 02: arte, literatura e seus agentes

Atividade: Filme - Sociedade dos Poetas Mortos
Assista ao filme após ter lido as questões abaixo.

a) Que tipo de sociedade é caracterizada no filme (pense, por exemplo, nas relações entre pais e filhos e entre professores e alunos)?
b) Por que o professor John Keating propõe o conceito de carpe diem como “lema” para seus alunos? Que relação se pode estabelecer entre tal conceito e os valores adotados como “lema” na Welton Academy?
c) Por que o professor manda os alunos rasgarem a introdução do livro em que estudam?
d) O que é poesia na visão de John Keating? Que relação há entre essa definição e o que foi visto no capítulo 1 do livro?
e) O filme apresenta, em diferentes momentos, algumas cenas em que, por meio do cenário, sentimentos fortes são sugeridos ao espectador. A que cena é possível associar a idéia de liberdade? E de amizade?

aula 02: arte, literatura e seus agentes

Agentes literários
Para estudo dos agente literários precisamos, antes de mais nada, estarmos livres de preconcietos. Não julgando "o livro pela capa" (discussão a partir do vídeo da cantora escocesa, Susan Boyle >>>Veja em: http://www.youtube.com/watch?v=9lp0IWv8QZY ) mantendo um olhar atento as pistas que o autor nos deixa. Os mesmo elementos que participam da composição da obra contribuem para sua análise.
Observe a obra abaixo o uso dos agentes literários na análise da obra de Basquiat:



Mona lisa, de Jean-Michel Basquiat, 1980

a) Que tipo de informação que pode ser encontrado em uma obra de arte visual. Observe os traços, o uso das cores, a presença (ou não) de elementos verbais etc. Todas essas informações fornecem pistas sobre o momento em que uma obra de arte foi criada.

b)identifique as pistas presentes na tela. A imagem se parece com alguma outra conhecida? Em que momento essa tela pode ter sido criada?


Mona lisa, de Leonardo da Vinci, 1503

c) Observe as diferenças no modo de retratar a figura feminina. No quadro de Leonardo, a Gioconda aparece como o elemento central, que captura o olhar do observador. Suas formas e traços são realistas. O cenário funciona somente como pano de fundo para o retrato. Nada disso acontece no caso da obra de Basquiat, que evidentemente faz uma “releitura” do quadro de Leonardo.

d) Note os elementos da nota de US$ 1,00 que foram “espalhados” por Basquiat em sua Mona Lisa. Veja que é como se Basquiat tivesse substituído a efígie de George Washington, no centro da nota de um dólar, por sua Mona Lisa.

e) Reflita sobre as questões propostas e responda a cada uma delas a partir das informações obtidas na comparação entre as obras de Leonardo e Basquiat, e entre a Mona Lisa de Basquiat e a nota de US$ 1,00.

g) A inserção dos elementos da nota de US$ 1,00 sugere importantes questões sobre o significado da arte no mundo contemporâneo, problematizam o valor essencialmente financeiro associado a obras de mestres como Leonardo da Vinci, questionam a definição de beleza, em que perfil de público o artista pensou enquanto criava uma obra como essa etc.

>>>> O objetivo desta aula nao está na análise da obra de Basquiat em si, mas em como os agentes literários nos permitem decifrá-la.

atividade 01: Arte, literatura e seus agentes

Le Blanc, seing - de René Magritte
a) Responda.
• Que cores predominam?
• Que figuras estão pintadas no quadro?
b) Observe cada figura separadamente e depois o conjunto das figuras no quadro.
• A representação de cada uma delas pode ser considerada real? Justifique.
• O que no quadro pode ser considerado irreal?
• Que jogo é feito pelo pintor no quadro?
• Qual seria sua intenção ao promover esse jogo?
c) O modo original e estranho como Magritte pinta seus quadros nos faz ver a realidade de outro ponto de vista. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
d) Leia o que o próprio Magritte afirmou sobre suas obras.
“Pintei quadros onde os objetos estavam representados com a aparência que têm na realidade, de uma maneira bastante objetiva, a fim de que o efeito perturbador que, graças a certos meios, eles podiam provocar, se encontre no mundo real, onde estes objetos existem, devido a uma troca totalmente natural.” Disponível em: http://zgm.sites.uol.com.br/merciaribeiro.htm. Acesso em: 28 nov. 2005.Essa afirmação do pintor pode ser observada no quadro? Explique.

leitura complementar: literatura e realidade

[analise a reportagem pensando nos dois temas desta discussão: as ligações entre literatura e realidade e a influência do mercado sobre as formas literárias].
Tão novos, tão polêmicos
(Revista Veja. 2004)

Escritores jovens causam barulho com livros que abrem uma janela para o lado secreto da adolescência

Desde que lançou o romance Doze, aos 17 anos, o americano Nick McDonell, hoje com 20, vem sendo abordado por pais preocupados. Querem saber se os adolescentes de fato freqüentam festas com drogas e muito sexo, tal como a que é descrita no livro. A mesma reação escandalizada cerca os livros da francesa Lolita Pille, 21, e da italiana Melissa Panarello, 18. A primeira tinha 19 quando lançou Hell – Paris 75016, em que retrata a existência desregrada de uma patricinha parisiense. Melissa publicou no ano passado Cem Escovadas Antes de Dormir, acusado de pornográfico por seu relato das atividades sexuais atípicas (leia-se orgias e sadomasoquismo) de uma adolescente. Também elas são bombardeadas por perguntas sobre as loucuras que descrevem. As respostas dos três autores variam. Melissa e Lolita juram que seus livros são autobiográficos, enquanto McDonell não tinha experiência com drogas quando escreveu Doze. Seja como for, os três livros se alimentam de uma mesma idéia: a de que os adolescentes formam uma tribo à parte e têm vidas que os adultos desconhecem. Os escritores jovens fazem barulho ao abrir janelas para um mundo supostamente escondido de sentimentos e experiências.
Essa janela literária é relativamente recente. A história da literatura registra alguns talentos precoces, como o poeta francês Arthur Rimbaud e, no Brasil, Álvares de Azevedo. Esses autores não tinham, porém, a juventude como tema central. Há também uma tradição de obras que dramatizam a passagem da adolescência para a maturidade. São os "romances de formação" – Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe, é o maior exemplo. São todos livros escritos por adultos. Hoje, pelo contrário, vêem-se cada vez mais adolescentes escrevendo sobre adolescência. A vertente mais encorpada dessa literatura é confessional. Memórias de jovens que viveram situações extremas ou momentos históricos traumáticos constituem um filão próprio. O clássico do gênero é O Diário de Anne Frank, escrito por uma adolescente judia que morreu num campo de concentração. Há também Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída, de 1979 – mas Christiane não escrevia: o livro é um depoimento registrado por jornalistas. Na mesma linha, nos anos 90, durante a guerra na Bósnia, uma menina de 11 anos, Zlata Filipovic, registrou seu cotidiano em Saravejo em outro diário transformado em livro. No Brasil, pode-se lembrar de Feliz Ano Velho, escrito por Marcelo Rubens Paiva aos 23 anos, e, mais recentemente, da ex-menina de rua Esmeralda Ortiz, que contou suas experiências em Por que Não Dancei.
Lançar um texto de ficção que desperte algum interesse é mais difícil e incomum. "Desde os 9 anos eu queria publicar um livro. Mas precisei crescer antes de conseguir escrever algo que valesse a pena", conta a carioca Simone Campos, de 20 anos, que publicou a novela No Shopping quando tinha 17. Ao contrário do que acontece na música ou na matemática, é raro realizar feitos literários muito cedo. Tanto assim que o dramaturgo Nelson Rodrigues, com sua acidez habitual, oferecia um único conselho aos jovens que desejavam escrever: envelhecer depressa. Mas, independentemente das limitações que a crítica – e a autocrítica – imponha à garotada com ambições literárias, o mercado editorial parece ter encontrado um espaço para os seus livros. A cultura jovem é cada vez mais variada, cada vez mais tomada por tipos peculiares de música, de gíria, de drogas. Não faltará lugar para aqueles que proponham abrir uma fresta para esse mundo – com um pouco mais ou um pouco menos de ficção.
Realidade cifrada

– Você disse que todo bom romance é uma transposição poética da realidade. Poderia explicar? – Sim, acho que um romance é uma representação cifrada da realidade. A realidade que se maneja num romance é diferente da realidade da vida, embora se apóie nela. – O tratamento da realidade nos seus livros recebeu o nome de realismo mágico. Tenho a impressão de que seus leitores europeus percebem a magia das coisas que você conta, mas não a realidade que as inspira... – Certamente porque o seu racionalismo os impede de ver que a realidade não termina no preço dos tomates ou dos ovos. A vida cotidiana na América Latina nos demonstra que a realidade está cheia de coisas extraordinárias. Conheço gente inculta que leu Cem Anos de Solidão com muito prazer e cuidado, mas sem surpresa alguma, pois afinal não lhes conto nada que não pareça com a vida que eles vivem. – Então, tudo o que você põe nos seus livros tem uma base real? – Não há nos meus romances uma linha que não esteja baseada na realidade. Texto adaptado de Cheiro de Goiaba, Gabriel García Márquez, Ed. Record, tel. (21) 2585-2000
Basta mobiliar o mundo
Entendo que para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado possível. Constrói-se um rio e na margem esquerda coloca-se um pescador, e, se esse pescador possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se começar a escrever. Que faz um pescador? Pesca. E depois? Ou há peixes que mordem a isca ou não há. Se há, o pescador os fisga e vai para casa todo contente. Fim da história. Se não há, como ele é temperamental, talvez se irrite, talvez quebre a vara de pescar. Não é muita coisa, mas já é um esboço. Mas existe um provérbio indiano que diz "senta-te à beira do rio e espera, o cadáver do teu inimigo não tardará a passar". E se, levado pela correnteza, passasse um cadáver? Não se pode esquecer que o meu pescador tem uma folha penal suja. Quererá correr o risco de meter-se na enrascada? Fugirá, fingindo não ver o cadáver? Temperamental como é, ficará furioso por não ter realizado ele próprio a sonhada vingança? Como se vê, bastou mobiliar nosso mundo e já se tem o início de uma história. O problema é construir o mundo, as palavras virão quase por si sós.
(Texto adaptado de Pós-Escrito a O Nome da Rosa, Umberto Eco, Ed. Nova Fronteira, tel. (21) 2537-8770)
Basta mobiliar o mundo

Entendo que para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado possível. Constrói-se um rio e na margem esquerda coloca-se um pescador, e, se esse pescador possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se começar a escrever. Que faz um pescador? Pesca. E depois? Ou há peixes que mordem a isca ou não há. Se há, o pescador os fisga e vai para casa todo contente. Fim da história. Se não há, como ele é temperamental, talvez se irrite, talvez quebre a vara de pescar. Não é muita coisa, mas já é um esboço. Mas existe um provérbio indiano que diz "senta-te à beira do rio e espera, o cadáver do teu inimigo não tardará a passar". E se, levado pela correnteza, passasse um cadáver? Não se pode esquecer que o meu pescador tem uma folha penal suja. Quererá correr o risco de meter-se na enrascada? Fugirá, fingindo não ver o cadáver? Temperamental como é, ficará furioso por não ter realizado ele próprio a sonhada vingança? Como se vê, bastou mobiliar nosso mundo e já se tem o início de uma história. O problema é construir o mundo, as palavras virão quase por si sós.
(Texto adaptado de Pós-Escrito a O Nome da Rosa, Umberto Eco, Ed. Nova Fronteira, tel. (21) 2537-8770)