quarta-feira, 22 de julho de 2009

leitura complementar: ortografia


leitura complementar: ritmo e métrica poética

Ritmo e Métrica Poética

1- POEMA OU POESIA

Tem-se a partir ou não do trabalho artístico dos versos as concepções de:

1.1- prosa poética ou poesia livre ou simplesmente poema – é o texto onde o que conta é o conteúdo envolvendo sentimentos profundos vindos da percepção humana do mundo e de si mesmo, considerada, por muitos, como uma poesia contextual;

1.2- poesia, que apresenta o trabalho artítico-lingüístico nas palavras da poesia de modo a ajustar o conteúdo em rima e/ou métrica (há poesias com métrica e sem rima, e vice-versa), podendo nem sempre falar de sentimentos e belezas, até mesmo descrevendo objetos.

Uma poesia é dividida em estrofes e versos. Estrofe é um conjunto de versos. Verso é cada linha da poesia.

2- ASPECTOS TÉCNICOS DO TEXTO POÉTICO

Muita dúvida é gerada quanto aos aspectos técnicos da poesia. Neste texto, tenta-se explicar isso do modo mais simples possível.

2.1- Estrofação: a divisão de uma poesia em estrofes.

De acordo com o número de versos, uma estrofe pode ser:
Monóstico: estrofe de um verso;
Dístico: dois versos;
Terceto: três versos;
Quadra (quarteto): quatro versos;
Quintilha: cinco versos;
Sextilha: seis versos;
Septilha: sete versos;
Oitava: oito versos;
Nona: nove versos;
Décima: dez versos numa estrofe.

2.2- Métrica Poética do Verso

A divisão e a contagem das sílabas poética de um verso também pode ser chamada de escansão ou métrica poética. Metrificar ou escandir versos, então, é dividir silabicamente um verso poético.

A métrica poético-silábica é diferenciada da regra comum gramatical. Contam-se as sílabas até a última sílaba tônica do verso, dado a sobressair-se sonoramente em relação à(s) posterior(es). Os encontros vocálicos entre as palavras são fonemas aglutinados durante a declamação do verso. Quando há vírgula entre o encontro de vogais, não há aglutinação. Por causa da vírgula, que continua valendo como uma pausa na leitura, costuma não haver a aglutinação durante a declamação.


Quanto ao número de sílabas, um verso pode ser:
Monossílabo: uma sílaba poética;
Dissílabo: duas sílabas;
Trissílabo: três sílabas;
Tetrassílabo: quatro sílabas;
Pentassílabo (redondilha menor): cinco sílabas;
Hexassílabo: seis sílabas;
Heptassílabo (redondilha maior): sete sílabas;
Octossílabo: oito sílabas;
Eneassílabo (jâmbico): nove sílabas;
Decassílabo: dez sílabas;
*Na forma clássica, os versos versos decassílabos podem ser: heróicos, quando apresentam uma tônica 6ª e 10ª sílaba do verso; e sáficos, se as tônicas forem na 3ª ou 4ª, 8ª e 10ª sílabas.
Hendecassílabos (datílicos): onze sílabas;
Dodecassílabos: doze sílabas;
* Na forma clássica, os versos dodecassílabos, são chamados alexandrinos e apresentam tônica na 6ª e 12ª sílabas e tem uma cesura, ou seja, uma pausa marcada (normalmente, por vírgula) depois da sexta sílaba, separando-o em seis sílabas poéticas de cada lado.
Bárbaros: com mais de doze sílabas.

Atualmente, muitos poemas se apresentam sem métrica ou apresentando uma métrica variada, combinada com cadências musicais, outros seguindo a tradição dos poemas românticos e clássicos que normalmente apresentavam poemas com versos específicos: decassílabos (10), dodecassílabos (12), podendo apresentar variações de pentassílabos (5) e hexassílabos (6).

A / mor / é / fo / go / que ar / de / sem / se / ver / 10
é / fe / ri / da / que / dói, / e / não / se / sen / te 10
(Camões)

Nós / so / mos 2
de u / ma / ge / ra / cão / pós / guer / ra, 7
de u / ma / ge / ra / ção / pós / Cris / to, 7
de u / ma / ge / ra / ção / pós / Bea / tles. 7
Nós / so / mos... 2
Nós / so / mos 2
um es / to / pim / bem / cur / to, 5
u / ma / bom / ba, 3
pres / tes / a ex / plo / dir 5
(Música MPB: Geração, de Biné Zimmer)

2.3- Rima Poética

Rimas são sons coincidentes que apresentam uma cadência sonora na poesia.
Versos denominados versos brancos são os que não rimam com nenhum outro.
Levando em consideração os versos que rimam, pode-se classificar a rima em:

Se uma lágrima as pálpebras me inunda, A
Se um suspiro nos seios treme ainda, B
É pela virgem que sonhei!... que nunca A
Aos lábios me encostou a face linda! B
(Lembrança de Morrer: Álvares de Azevedo)

A estrofe acima apresenta rima alternada em seus versos.
Alternada: em versos alternados, ou seja, salteados por outro verso. A – A / B – B

De tudo, ao meu amor serei atento A
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto B
Que mesmo em face do maior encanto B
Dele se encante mais meu pensamento. A
(Soneto da Felicidade, Vinícius de Moraes)

A estrofe acima apresenta rima interpolada por rima emparelhada.
Interpolada: em versos interpolados por mais de um verso. A – – A
Emparelhada: em versos consecutivos. BB

Na poética moderna, é comum o uso de rimas mistas.
Mistas: as rimas da poesia não seguem esquematização regular, como as anteriores.

Embora incomuns, existem as rimas continuadas.
Continuada: rima repetida ao longo do poema. Supostamente, num soneto, seria assim: AAAA AAAA AAA AAA

Rima Gramatical: de acordo com a classe gramatical das palavras que rimam no final dos versos, a rima é classificada?
Pobre: quando as palavras de mesmo som no final dos versos têm a mesma classe gramatical.
Rica: quando as palavras de mesmo som no final dos versos têm a classe gramatical diferente.

São consideradas rimas internas dos versos, ou seja, acontecem no próprio verso, não de um verso com o outro:
Aliteração: é a repetição constante de um mesmo fonema consonantal.
"Vozes veladas, veludosas vozes..." (Cruz e Souza) Aliterações v (s z, com som de s)
Assonância: é a repetição constante de um mesmo fonema vocálico.

3- PRINCIPAIS FORMAS ATUAIS DE PRODUÇÃO POÉTICA

Atualmente, a linguagem poética tem apresentado as seguintes variantes:
3.1- Poema Livre: sem regras específicas de forma e métrica poética.
3.2- Dueto: em qualquer das formas, produzido por 02 escritores.
3.3- Haicai : poesia de uma única estrofe, com versos divididos em 5, 7, 5 sílabas poéticas.

Surgiu no Japão, com Bashô, que criou a forma métrica 5 – 7 – 5. A essência de seu conteúdo é a pureza, a beleza, como uma estrofe inspirada, normalmente abordando elementos da natureza, como as estações do ano, as águas de um rio, o estopim de um vulcão, a calmaria no mar, uma tempestade.

No Brasil, a forma mais apreciada é a de Guilherme de Almeida, ou o chamado Haicai Guilhermino, com a forma métrica também em 5 – 7 – 5, mas com o primeiro verso rimando com o último e o segundo verso apresentando uma rima interna na segunda e na sétima sílaba poética.

"O sol apressado,
espalha a doirada toalha
sobre o chão molhado."
Eno Teodoro Wanke.

3.4- Soneto: poesia formada por dois quartetos e dois tercetos, normalmente, composta por versos decassílabos (soneto heróico, de 10 sílabas poéticas) e de conteúdo lírico ou rimado.

Surgiu na Itália, no século XII. Sua criação, inicialmente, foi atribuída a Píer della Vigna. Atualmente, estudiosos inclinam-se a considerar que Giacomo da Lentino seja o inventor do soneto.

Já foram feitos sonetos de várias métricas, até o dodecassílabo (alexandrino, de 12 sílabas poéticas). Quanto à rima, tem apresentado variações, inclusive, já existe soneto de versos brancos, ou seja, sem rima.

Dentro da poesia, até os dias atuais, é considerado uma obra de arte destacada.

Ex. Ambitio, por Marco Bastos

Ambitio

tanto peca o pecador como o pecado,
tanto sofre o sofredor como o sofrido.
nesse mundo divisor, calor mal dividido,
sofre o homem que inventou o inventado.

sofro a dor do nascimento ao ter nascido,
choro o pranto e o pranto é desabrido.
quem me dera pudesse ser na humanidade,
a eqüidade, o bom sentido, só bondade.

olho-no-olho, que não fosse...dente-por-dente.
fosse o homem outro homem, independente,
e explorasse bem a Terra, palmo a palmo.

vivesse o homem só amor e seu trabalho,
e que o ferro fosse a faca, não o talho.
- fosse calmo o tempo e o vento...fosse salmo...

(Marco Bastos)

3.5- Rondel: poesia formada por duas quadras e uma quintilha.

Surgiu na França, no século XIII. Não há variações na sua forma. Os dois primeiros versos da primeira quadra, se repetem nos dois últimos versos da segunda quadra. O primeiro verso do poema, também costuma ser o último.

Ex. A Felicidade Está..., por Esther

A felicidade está...
Nas coisas simples da vida.
Salto alto, pé encurvado,
falsa imagem à passar...

Crescer e decrescer por não descer...
Passar o tempo, sem enxergar,
A felicidade está...
Nas coisas simples da vida.

Andar na chuva, cabelos soltos
sentir o chão, nele plantar,
banho de rio, sentir o vento...
E saber que no bem viver,
A felicidade está...

3.6- Rondó: poesia com estrofação composta por quadras.

Surgido na França, na mesma época do Rondel , como um ritmo que acompanhava a dança de nome “Ronde”.

Ex. Rondó de Natal, por Ana da Cruz e Hildebrando Menezes

3.7- Vilanela: poesia formada por uma quadra e vários tercetos (sem número definido), com a métrica de versos em redondilha maior (7 sílabas), e a rima alternada. O primeiro e o terceiro verso da primeira estrofe aparecem alternadamente como último verso nas estrofes seguintes.

3.8- Indrisso: poesia de quatro estrofes, com duas estrofes maiores de mesmo número de versos; seguidas por duas estrofes menores de mesmo número de versos, tipo duas estrofes de quatro versos, seguidas por duas de um (44 11) e demais possibilidades (33 22 - 22 11 - 33 11).

Criado, no século XX, na Espanha, por Isidro Iturat, na década de 70, quando este autor, repensando a forma do soneto, resolveu fazer esta variante, que caiu no gosto de outros autores.

3.9- Acróstico: poema que cujos versos formam, verticalmente, com as letras iniciais, uma palavra, pensamento ou nome próprio.

Não se sabe precisar a data de criação desta forma literária nem seu criador, mas acredita-se que tenha nascido de uma homenagem, feita de uma maneira lúdica, mais solta, de um escritor brincando com as palavras.