segunda-feira, 19 de outubro de 2009

atividade: filme Narradores de Javé


A partir do filme reflita sobre:
- a função social da escrita;
- literatura oral-histórias de antepassados (causos);
- correspondências - importância e evolução deste tipo de texto;
- características do povo, lugar, costumes, condições econômicas;

Trabalho:
- Pesquisar histórias contadas pela sua família-tradição oral.
- Entregar escrito na quarta-feira, dia 28 de outubro de 2009.
- As histórias devem ser lidas em sala de aula.
- Trabalho Individual.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

leitura complementar: nova ortografia

atividade 01: literatura no período colonial

Darcy Ribeiro (1922-1997)
[Foi antropólogo e dedicou boa parte de sua vida ao estudo de diversos grupos indígenas brasileiros. Criou a Universidade de Brasilia, da qual foi ministro da Educação, ministro-chefe da Casa Civil e vice-governador do estado do Rio de Janeiro. Eleito senador em 1991, participou ativamente da elaboração de leis de proteção aos menores e estímulo a programas educacionais. Com a sua morte, calou-se uma voz em defesa dos índios e das crianças do Brasil.]

[...] Ao longo das praias brasileiras de 1500, se defrontaram, pasmos de se verem uns aos outros tal qual eram, a selvageria e a civilização. Suas concepções, não só diferentes mas opostas, do mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram cruamente. Os navegantes, barbudos, hirsutos, fedentos de meses de navegação oceânica, escalavrados de feridas do escorbuto, olhavam, em espanto, o que parecia ser a inocencia e a beleza encarnadas. Os índiso, vestidos da nudez emplumada, esplêndidos de vigor e de beleza, tapando as ventas contra a persistência, viam, ainda mais pasmos, aqueles seres que saíam do mar.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.44. (Fragmento).






Hirsutos: cabeludos.
Fedentos: fedorentos.
Escalavrados: arranhados.


Redija um parágrafo argumentativo em que você demonstre como os textos da literatura de viagens podem ser lidos como o registro do enfrentamento de duas civilizações: a européia e a indígena.
Antes de desenvolver seu parágrafo, sugiro as seguintes etapas.

  • Identifique, nos textos dos viajantes, a imagem que fazem dos índios e a imagem que fazem de si mesmos.

  • Identifique a imagem que Darcy Ribeiro faz dos índios e dos portugueses.

  • Compare as representações de índios e de portugueses feitas pelos relatos dos viajantes  e por Darcy Ribeiro.

  • Explique como os relatos de viajantes e o texto de Darcy Ribeiro aplicam de modo diferente os conceitos de "selvageria" e de "civilização".
[Cândido Portinari. O descobrimento do Brasil, óleo sobre tela (1956)]

sugestão de leitura: A Hora da Estrela, de Clarice Lispector.

Depois de muitos anos encontrei esse livro na minha estante, faz uns oito anos que li A Hora da Estrela, de Clarice Lispector e relendo-o vi como ele é aparentemente simples, mas complexamente instigante. Quem ainda não conhece, vale a pena lê-lo.
A história da nordestina Macabéa é contada passo a passo por seu autor, o escritor Rodrigo S.M. (um alter-ego de Clarice Lispector), de um modo que os leitores acompanhem o seu processo de criação. À medida que mostra esta alagoana, órfã de pai e mãe, criada por uma tia, desprovida de qualquer encanto, incapaz de comunicar-se com os outros, ele conhece um pouco mais sua própria identidade. A descrição do dia-a-dia de Macabéa na cidade do Rio de Janeiro como datilógrafa, o namoro com Olímpico de Jesus, seu relacionamento com o patrão e com a colega Glória e o encontro final com a cartomante estão sempre acompanhados por convites constantes ao leitor para ver com o autor de que matéria é feita a vida de um ser humano.


“Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geléia trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada – , que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.”

Veja no link abaixo uma entrevista que Clarice Lispector concedeu em 1977, pouco antes de falecer:
http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok

leitura complementar: crônica "Minha Vizinha Especial"

[sei que esse não é um blog pessoal e sim de trabalho, de um grupo, mas quero apresentar essa crônica que fala de algo que toca em mim de uma forma especial, por falar de "sinceridade", que talvez o seu (sinceridade) excesso tenha sido o meu maior pecado nessa vida.]
Minha vizinha especial

Sábado, 1º de agosto. O relógio digital, ao lado da cama, pulsa em rubros arábicos 7h00AM. Nietzsche, nigérrimo gato com potentes olhos de farol, aguarda pacientemente o meu despertar, na clássica posição de deusa Bastet. Quando abro os olhos, salta, ágil e gracioso, sobre mim. Rotina matinal invariável.
Nesse sábado, estilhaçada pelo som da campainha. Insistente. Levanto-me cambaleante de sono e dirijo-me à porta, com Nietzsche a mordiscar meus calcanhares. Aguarda-nos o radioso sorriso de Brena. Minha vizinha especial. Acena-me com um pequeno retângulo de papel vermelho, decorado com personagens infantis da sua predileção, Pucca e o gato Mio:
_Hei, Jeanne! Hoje é o dia do meu aniversário. Trouxe o convite para a festa.
_Hum parabéns! Quantos anos?
_Dezenove. Você vai à minha festa?
_Talvez eu não possa ir, Brena, mas prometo-lhe um presente. Que tal?!...
Brena encanta-se, como habitual, com o Nietzsche, cópia viva do gato Mio estampado no convite. Acaricia-o. Nietzsche ronrona. Os dois – menina&gato – trafegam pela via alfa da comunicação. Mágica interatividade! Minha vizinha especial tem Síndrome de Down. Quando surpreende alguém a olhá-la fixamente, informa célebre e segura: “Sou especial, mas não diferente!”
“Especial”, segundo Houaiss, significa: “coisa ou pessoa em particular; exclusivo de determinado individuo; ótimo; excelente; que desperta ou evoca coisas boas”. Tem razão, a Brena. Ela é mesmo especial. Molda-se, à perfeição, aos significados dicionarizados. E em mim, particularmente, “desperta ou evoca coisas boas”.
Nesses dois anos de convívio encontro-a no elavador, na garagem, na portaria do prédio aguardando o transporte que vai conduzi-la à escola da rede municipal de Vitória, onde cursa a 7ª série, em perfeita inclusão com os demais alunos -, Brena provou ter o dom de acordar-me a ternura, o encantamento e a poesia. Compaixão? Jamais! Disso, ela não necessita. Estar com a Brenda é banhar-se na essência da pureza. Candura. Além de submeter-nos ao exercício da sua gratínia autenticidade. Quando emite opiniões, extrai o âmago mais recondito das coisas e pessoas. Elimina as “capas” civilizacionais que nos revestem. Seu olhar raio X nos atravessa. Alie-se uma outra característica marcante: intensidade. Quando Brena canta – ouço-a daqui, na biblioteca -, canta em plenos pulmões. Quando dança - e ela adora dançar!-, põe toda a alma. Brena vivencia, no seu cotidiano, os versos de Fernado Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro: nada teu, exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes”.
Somente à noite, retorno ao prédio. Dirijo-me ao salão de festas. Os convidados já se foram. Ali, apenas a mãe, o padrasto e a avó. E súbito, surge a aniversariante. Bela. Lembra-me as míticas princesas dos contos de fada. Beijo-a, entregando-lhe o presente.
_Uau!... Lindo, Jeanne! Olha mãe, que lindo!...
Despeço-me. No instante em que abro a porta do elevador, Brena grita:
-Hei Jeanne, eu te amo!
Meus olhos marejam-se. Sei da surprema sinceridade da minha vizinha especial. E relampeja-me, num calafrio, a frase do escritor e cineastra Domingos de Oliveira: “A única coisa que ainda escandaliza hoje em dia é a sinceridade”.
CRÔNICA: Jeanne Bilichi_Jornal A Gazeta. 16 de agosto de 2009.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

atividade 02 - renascimento

Observe atentamente a imagem abaixo para responder às questões de 1 a 3:

[Ticiano, Amor sagrado e profano, 1514]
1 . Descreva os elementos que compõem a cena representada no quadro Amor Sagrado e Profano, do pintor renascentista Ticiano.
.: Que relação você percebe entre o título do quadro e acena nele aopresentada?

2 . A criança que brinca com a água da fonte, entre as duas mulheres, é uma representação do Cupido. Observe a posição central que ocupa no quadro. O que ele pode simbolizar na pintura?

3. O tema desse quadro revela a influência dos ideais estéticos que marcaram a época em que Ticiano viveu? Por quê?

aula 06: classicismo - renascimento

Esta lição visa mostrar como o classicismo surgiu, em que época ele foi mais forte e de onde ele tem maior influência. Também como afetou a sociedade da época. E como este termo pode ser aplicado. Quais foram os principais autores. E uma pequena ênfase em Luiz de Camões.


CLASSICISMO

ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO

Durante o século XIV, a Europa começava a se preparar para uma grande transformação política, econômica e cultural que teve seu auge ou apogeu nos séculos XV e XVI, chamado de classicismo, também conhecido como quinhentismo, já que se manifestou no século XVI, em l527, quando o poeta Sá de Miranda retornou da Itália trazendo as características desse novo estilo. este fato marcou o início dos tempos modernos. Esse período, pela história passa a ser conhecido como Renascimento, onde o homem passa a ser redescobrir, mudar de valores ter uma nova visão do mundo.

A sociedade que era dominada pelo teocentrismo medieval passa a dar lugar ao antropocentrismo, ou seja, a valorização do homem, onde o homem passa a ser o centro dos estudos e a exaltação da natureza humana, pois o homem começa a entender sua capacidade realizadora:ele pode conquistar, inventar, criar, produzir e fazer qualquer outra coisa. Esse caráter humanista ou antropocêntrico estava esquecido nas "trevas" da Idade Média, embora já estivesse existido na Antigüidade clássica, como exemplo na civilização grega. No início do século XVI, ocorre o renascimento do Antropocentrismo. No Renascimento, as obras passam a perder o primitivismo e a ingenuidade das obras medievais e a ganhar um aprimoramento técnico igual ou até superior as obras da antiguidade.

O homem do Renascimento se identifica na cultura greco-latina que passa a ser os valores da época. Além de Integrar a seu universo artístico os deuses da mitologia grega,isto porque os deuses tem características humanas, como por exemplo, sentimentos, o homem renascentista procura compreender o mundo sob a luz da razão, e faz a associação do equilíbrio entre razão e emoção, as noções de beleza, bem e verdade.

A concepção estética que teve a base no Humanismo e no Renascimento convencionou-se chamar Classicismo, isto porque os clássicos eram os antigos filósofos greco-latinos que por sua influência e saber poderiam ser considerados importantes ao ponto de serem estudado em “classes”.

Classicismo e seu significado
Este termo também teve alguns significados, poderia referi-se a um escritor aristocrático.
pintura típica do classicismo

Outra definição pode ser o classicismo como conjunto de caracteres estéticos, definindo o estilo cultural, artístico e literário de um período, por oposição ao barroco, ao romântico.

Os termos :clássico e classicismo também podem ser empregados a partir de uma mistura de definições de valores, como se arte greco-romana estabelecesse um padrão para toda a arte produzida posteriormente , e periodização histórica.

A oposição clássico/ romântico permitiria explicar, no limite, o desenvolvimento das artes e da cultura na Europa.



CARACTERÍSTICAS
» Imitação dos autores greco-latino: como exemplo: Homero, Aristóteles, que eram gregos; Cícero, Virgílio, Horácio que eram latinos.

Um exemplo da influência desses autores pode ser vista em um trecho do poema de Camões,abaixo :

“As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Traprobana,
(Camões, Os lusíadas)

» Preocupação com a forma: Rígida exigência quanto a métrica e a rima dos poemas; acentuada preocupação com a correção gramatical, principalmente com a clareza na expressão do pensamento, a sobriedade e a lógica; preocupa-se com a observância das distinções ou diferenças entre os gêneros literários.
» Construção frasal: ocorre a inversão dos termos na oração e de outras no mesmo período, isto devido a influência latina.
» Utilização da mitologia greco-latina: para dar um efeito mais artístico, porque os personagens mitológicos simbolizam ações, demonstram sentimentos e atitudes humanas.
» Universalidade e impessoalidade: ampla preocupação com as verdades eternas e universais, não levando em conta opiniões particulares e o pessoal, não se tem opinião do autor.
» Temas de interesse da época: como os descobrimentos e as expansões marítimas.
» Idealismo: A arte clássica era naturalista e objetiva; a realidade era idealizada pelo artista. A mulher amada era descrita como um ser celestial, igual aos anjos; a natureza era vista como uma região paradisíaca, onde a paz e a harmonia de bosques e florestas eram mostradas.



PRINCIPAIS AUTORES PORTUGUESES
Luís Vaz de Camões: (1525?-1580), O escritor mais conhecido e destacado do classicismo português. Escreveu poesias líricas e épicas, além de várias peças teatrais. A obra Os lusíadas, foi publicada em 1572 , mostra muito bem como era a visão do mundo e dos homens na época, algo próprio do classicismo. Serviu como matéria informativa, ou melhor, como uma reportagem de um dos fatos mais importantes da história portuguesa. O poema tem como tema principal a narração da viagem de Vasco da Gama as Índias,o enfoque maior é no povo português, em como conseguiu conquistar novas terras, por isso o enfoque é no povo e não em alguém específico.

Francisco de Miranda: (1495-1558), seus trabalhos giraram em torno da poesia e a comédia. Por ter vivido algum tempo na Itália, ele introduziu em Portugal o soneto,uma nova forma poética com base na arte renascentista.

Bernardim Ribeiro: (1482-1552), sua obra de destaque foi Menina e Moça, publicado em 1554.

Antônio Ferreira: (1528-1569), Sua obra principal foi A castro (ou Tragédia de d.Inês de Castro), escrita em versos, publicada em 1587, em Portugal.

Como Luis de Camões foi o mais destacado e conhecido poeta português deste período, será dado maior ênfase a ele.

CAMÕES LÍRICO
A base do amor para os poetas clássicos fundamentava-se, em três pensamentos diferentes: o racionalismo, a idealização e o espiritualismo.

Outro poeta que influenciou os poetas portugueses, foi o filósofo grego Platão.

PLATONISMO
Platão, (129-347 a.C), influenciou muitas das poesias de Camões. Principalmente no que se refere a Beleza e ao Amor. Para Platão,que tinha um pensamento meio espiritual, nossa alma, que segundo ele está presa ao corpo na vida terrena, passa a ligar-se a beleza, isto porque a pequena memória de uma Beleza soberana contemplada em outro universo. O amor platônico é na verdade, a supremacia em direção a Beleza que ultrapassa a pessoa e os prazeres dos sentidos

domingo, 2 de agosto de 2009

atividade: 01 - renascimento

Composição: Rita Lee / Roberto de Carvalho / Arnaldo Jabor
Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...
Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema..
Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...
O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!
Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...
Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...
Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois...
Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!
Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!

Rita Lee apresenta nessa canção, várias definições para amor e sexo. Essa distinção entre os dois termos definidos pode representar a visão contemporânea da diferença entre o amor platônico e profano? Justifique com elementos da letra.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

leitura complementar: ortografia


leitura complementar: ritmo e métrica poética

Ritmo e Métrica Poética

1- POEMA OU POESIA

Tem-se a partir ou não do trabalho artístico dos versos as concepções de:

1.1- prosa poética ou poesia livre ou simplesmente poema – é o texto onde o que conta é o conteúdo envolvendo sentimentos profundos vindos da percepção humana do mundo e de si mesmo, considerada, por muitos, como uma poesia contextual;

1.2- poesia, que apresenta o trabalho artítico-lingüístico nas palavras da poesia de modo a ajustar o conteúdo em rima e/ou métrica (há poesias com métrica e sem rima, e vice-versa), podendo nem sempre falar de sentimentos e belezas, até mesmo descrevendo objetos.

Uma poesia é dividida em estrofes e versos. Estrofe é um conjunto de versos. Verso é cada linha da poesia.

2- ASPECTOS TÉCNICOS DO TEXTO POÉTICO

Muita dúvida é gerada quanto aos aspectos técnicos da poesia. Neste texto, tenta-se explicar isso do modo mais simples possível.

2.1- Estrofação: a divisão de uma poesia em estrofes.

De acordo com o número de versos, uma estrofe pode ser:
Monóstico: estrofe de um verso;
Dístico: dois versos;
Terceto: três versos;
Quadra (quarteto): quatro versos;
Quintilha: cinco versos;
Sextilha: seis versos;
Septilha: sete versos;
Oitava: oito versos;
Nona: nove versos;
Décima: dez versos numa estrofe.

2.2- Métrica Poética do Verso

A divisão e a contagem das sílabas poética de um verso também pode ser chamada de escansão ou métrica poética. Metrificar ou escandir versos, então, é dividir silabicamente um verso poético.

A métrica poético-silábica é diferenciada da regra comum gramatical. Contam-se as sílabas até a última sílaba tônica do verso, dado a sobressair-se sonoramente em relação à(s) posterior(es). Os encontros vocálicos entre as palavras são fonemas aglutinados durante a declamação do verso. Quando há vírgula entre o encontro de vogais, não há aglutinação. Por causa da vírgula, que continua valendo como uma pausa na leitura, costuma não haver a aglutinação durante a declamação.


Quanto ao número de sílabas, um verso pode ser:
Monossílabo: uma sílaba poética;
Dissílabo: duas sílabas;
Trissílabo: três sílabas;
Tetrassílabo: quatro sílabas;
Pentassílabo (redondilha menor): cinco sílabas;
Hexassílabo: seis sílabas;
Heptassílabo (redondilha maior): sete sílabas;
Octossílabo: oito sílabas;
Eneassílabo (jâmbico): nove sílabas;
Decassílabo: dez sílabas;
*Na forma clássica, os versos versos decassílabos podem ser: heróicos, quando apresentam uma tônica 6ª e 10ª sílaba do verso; e sáficos, se as tônicas forem na 3ª ou 4ª, 8ª e 10ª sílabas.
Hendecassílabos (datílicos): onze sílabas;
Dodecassílabos: doze sílabas;
* Na forma clássica, os versos dodecassílabos, são chamados alexandrinos e apresentam tônica na 6ª e 12ª sílabas e tem uma cesura, ou seja, uma pausa marcada (normalmente, por vírgula) depois da sexta sílaba, separando-o em seis sílabas poéticas de cada lado.
Bárbaros: com mais de doze sílabas.

Atualmente, muitos poemas se apresentam sem métrica ou apresentando uma métrica variada, combinada com cadências musicais, outros seguindo a tradição dos poemas românticos e clássicos que normalmente apresentavam poemas com versos específicos: decassílabos (10), dodecassílabos (12), podendo apresentar variações de pentassílabos (5) e hexassílabos (6).

A / mor / é / fo / go / que ar / de / sem / se / ver / 10
é / fe / ri / da / que / dói, / e / não / se / sen / te 10
(Camões)

Nós / so / mos 2
de u / ma / ge / ra / cão / pós / guer / ra, 7
de u / ma / ge / ra / ção / pós / Cris / to, 7
de u / ma / ge / ra / ção / pós / Bea / tles. 7
Nós / so / mos... 2
Nós / so / mos 2
um es / to / pim / bem / cur / to, 5
u / ma / bom / ba, 3
pres / tes / a ex / plo / dir 5
(Música MPB: Geração, de Biné Zimmer)

2.3- Rima Poética

Rimas são sons coincidentes que apresentam uma cadência sonora na poesia.
Versos denominados versos brancos são os que não rimam com nenhum outro.
Levando em consideração os versos que rimam, pode-se classificar a rima em:

Se uma lágrima as pálpebras me inunda, A
Se um suspiro nos seios treme ainda, B
É pela virgem que sonhei!... que nunca A
Aos lábios me encostou a face linda! B
(Lembrança de Morrer: Álvares de Azevedo)

A estrofe acima apresenta rima alternada em seus versos.
Alternada: em versos alternados, ou seja, salteados por outro verso. A – A / B – B

De tudo, ao meu amor serei atento A
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto B
Que mesmo em face do maior encanto B
Dele se encante mais meu pensamento. A
(Soneto da Felicidade, Vinícius de Moraes)

A estrofe acima apresenta rima interpolada por rima emparelhada.
Interpolada: em versos interpolados por mais de um verso. A – – A
Emparelhada: em versos consecutivos. BB

Na poética moderna, é comum o uso de rimas mistas.
Mistas: as rimas da poesia não seguem esquematização regular, como as anteriores.

Embora incomuns, existem as rimas continuadas.
Continuada: rima repetida ao longo do poema. Supostamente, num soneto, seria assim: AAAA AAAA AAA AAA

Rima Gramatical: de acordo com a classe gramatical das palavras que rimam no final dos versos, a rima é classificada?
Pobre: quando as palavras de mesmo som no final dos versos têm a mesma classe gramatical.
Rica: quando as palavras de mesmo som no final dos versos têm a classe gramatical diferente.

São consideradas rimas internas dos versos, ou seja, acontecem no próprio verso, não de um verso com o outro:
Aliteração: é a repetição constante de um mesmo fonema consonantal.
"Vozes veladas, veludosas vozes..." (Cruz e Souza) Aliterações v (s z, com som de s)
Assonância: é a repetição constante de um mesmo fonema vocálico.

3- PRINCIPAIS FORMAS ATUAIS DE PRODUÇÃO POÉTICA

Atualmente, a linguagem poética tem apresentado as seguintes variantes:
3.1- Poema Livre: sem regras específicas de forma e métrica poética.
3.2- Dueto: em qualquer das formas, produzido por 02 escritores.
3.3- Haicai : poesia de uma única estrofe, com versos divididos em 5, 7, 5 sílabas poéticas.

Surgiu no Japão, com Bashô, que criou a forma métrica 5 – 7 – 5. A essência de seu conteúdo é a pureza, a beleza, como uma estrofe inspirada, normalmente abordando elementos da natureza, como as estações do ano, as águas de um rio, o estopim de um vulcão, a calmaria no mar, uma tempestade.

No Brasil, a forma mais apreciada é a de Guilherme de Almeida, ou o chamado Haicai Guilhermino, com a forma métrica também em 5 – 7 – 5, mas com o primeiro verso rimando com o último e o segundo verso apresentando uma rima interna na segunda e na sétima sílaba poética.

"O sol apressado,
espalha a doirada toalha
sobre o chão molhado."
Eno Teodoro Wanke.

3.4- Soneto: poesia formada por dois quartetos e dois tercetos, normalmente, composta por versos decassílabos (soneto heróico, de 10 sílabas poéticas) e de conteúdo lírico ou rimado.

Surgiu na Itália, no século XII. Sua criação, inicialmente, foi atribuída a Píer della Vigna. Atualmente, estudiosos inclinam-se a considerar que Giacomo da Lentino seja o inventor do soneto.

Já foram feitos sonetos de várias métricas, até o dodecassílabo (alexandrino, de 12 sílabas poéticas). Quanto à rima, tem apresentado variações, inclusive, já existe soneto de versos brancos, ou seja, sem rima.

Dentro da poesia, até os dias atuais, é considerado uma obra de arte destacada.

Ex. Ambitio, por Marco Bastos

Ambitio

tanto peca o pecador como o pecado,
tanto sofre o sofredor como o sofrido.
nesse mundo divisor, calor mal dividido,
sofre o homem que inventou o inventado.

sofro a dor do nascimento ao ter nascido,
choro o pranto e o pranto é desabrido.
quem me dera pudesse ser na humanidade,
a eqüidade, o bom sentido, só bondade.

olho-no-olho, que não fosse...dente-por-dente.
fosse o homem outro homem, independente,
e explorasse bem a Terra, palmo a palmo.

vivesse o homem só amor e seu trabalho,
e que o ferro fosse a faca, não o talho.
- fosse calmo o tempo e o vento...fosse salmo...

(Marco Bastos)

3.5- Rondel: poesia formada por duas quadras e uma quintilha.

Surgiu na França, no século XIII. Não há variações na sua forma. Os dois primeiros versos da primeira quadra, se repetem nos dois últimos versos da segunda quadra. O primeiro verso do poema, também costuma ser o último.

Ex. A Felicidade Está..., por Esther

A felicidade está...
Nas coisas simples da vida.
Salto alto, pé encurvado,
falsa imagem à passar...

Crescer e decrescer por não descer...
Passar o tempo, sem enxergar,
A felicidade está...
Nas coisas simples da vida.

Andar na chuva, cabelos soltos
sentir o chão, nele plantar,
banho de rio, sentir o vento...
E saber que no bem viver,
A felicidade está...

3.6- Rondó: poesia com estrofação composta por quadras.

Surgido na França, na mesma época do Rondel , como um ritmo que acompanhava a dança de nome “Ronde”.

Ex. Rondó de Natal, por Ana da Cruz e Hildebrando Menezes

3.7- Vilanela: poesia formada por uma quadra e vários tercetos (sem número definido), com a métrica de versos em redondilha maior (7 sílabas), e a rima alternada. O primeiro e o terceiro verso da primeira estrofe aparecem alternadamente como último verso nas estrofes seguintes.

3.8- Indrisso: poesia de quatro estrofes, com duas estrofes maiores de mesmo número de versos; seguidas por duas estrofes menores de mesmo número de versos, tipo duas estrofes de quatro versos, seguidas por duas de um (44 11) e demais possibilidades (33 22 - 22 11 - 33 11).

Criado, no século XX, na Espanha, por Isidro Iturat, na década de 70, quando este autor, repensando a forma do soneto, resolveu fazer esta variante, que caiu no gosto de outros autores.

3.9- Acróstico: poema que cujos versos formam, verticalmente, com as letras iniciais, uma palavra, pensamento ou nome próprio.

Não se sabe precisar a data de criação desta forma literária nem seu criador, mas acredita-se que tenha nascido de uma homenagem, feita de uma maneira lúdica, mais solta, de um escritor brincando com as palavras.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

leitura complementar: trovadorismo - cantigas

Cantiga de Amor

"A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, ay Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.
Ay Deus, que me-a fezestes mais ca min amar,
mostrade-me-a hu possa con ela falar,
se non dade-me-a morte."

Características
Eu lírico masculino.
Ausência do paralelismo de par de estrofes e do leixa-pren.
Predomínio das idéias.
Assunto Principal: o sofrimento amoroso do eu-lírico perante uma mulher idealizada e distante.
Amor cortês; convencionalismo amoroso.
Amor impossível.
Ambientação aristocrática das cortes.
Forte influência provençal.
Vassalagem amorosa "o eu lírico usa o pronome de tratamento "senhor".

Cantiga de Amigo
"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"
(...)

Características:
Eu lírico feminino.
Presença de paralelismos.
Predomínio da musicalidade.
Assunto Principal: o lamento da moça cujo namorado partiu.
Amor natural e espontâneo.
Amor possível.
Ambientação popular rural ou urbana.
Influência da tradição oral ibérica.
Deus é o elemento mais importante do poema.
Pouca subjetividade.

Cantiga de Escárnio
Na cantiga de escárnio, o eu-lírico faz uma sátira a alguma pessoa. Essa sátira era indireta, cheia de duplos sentidos. As cantigas de escárnio (ou "de escarnho", na grafia da época) definem-se, pois, como sendo aquelas feitas pelos trovadores para dizer mal de alguém, por meio de ambigüidades, trocadilhos e jogos semânticos, num processo que os trovadores chamavam "equívoco". O cômico que caracteriza essas cantigas é predominantemente verbal, dependente, portanto, do emprego de recursos retóricos. A cantiga de escárnio exigindo unicamente a alusão indireta e velada, para que o destinatário não seja reconhecido, estimula a imaginação do poeta e sugere-lhe uma expressão irônica, embora, por vezes, bastante mordaz. exemplo de cantiga de escárnio.

Ai, dona fea, foste-vos queixar que vos nunca louv[o] em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia!... (...)

Cantiga de Maldizer
Ao contrário da cantiga de escárnio, a cantiga de maldizer traz uma sátira direta e sem duplos sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas vezes, são utilizados até palavrões. O nome da pessoa satirizada pode ou não ser revelado.

"Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!"

segunda-feira, 15 de junho de 2009

atividade 04: exercício sobre trovadorismo

1- (Fuvest-SP)
“Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?”
Escreva as palavras que completam os espaços.

Os versos acima pertencem a uma _____________, característica do ____________ português, estética literária dos séculos XII, XIII e XIV.

2- (Fuvest–SP) Coube ao século XIX a descoberta surpreendente da nossa época lírica. Em 1904, com a edição crítica e comentada do Cancioneiro da Ajuda, por Carolina Michaëlis de Vasconcelos, tivemos grande visão de conjunto do valiosíssimo espólio descoberto. (Costa Pimpão)
a) Qual é essa “primeira época lírica” portuguesa?
____________________________________________

b) Que tipos de composições poéticas se cultivam nessa época?
____________________________________________

3- No contexto das cantigas de amor, o que significa a coita?
4- (UM-SP) Nas cantigas de amor,
a) o trovador expressa um amor à mulher amada, encarando-a como um objeto acessível a seus anseios.
b) o trovador velada ou abertamente ironiza personagens da época.
c) o “eu-lírico” é feminino, expressando a saudade da ausência do amado.
d) o poeta pratica a vassalagem amorosa, pois, em postura platônica, expressa seu amor à mulher amada.
e) existe a expressão de um sentimento feminino, apesar de serem escritas por homens.

5-
“Ua dona, nom digu’eu qual,
non agoirou ogano mal
polas oitavas de Natal:
ia por as missa oir
e ouv’un corvo carnaçal,
e non quis da casa sair...”
(Joan Airas de santiago, século XIII)

O fragmento acima pertence a uma cantiga de escárnio. Por que não pode ser classificado como uma cantiga de maldizer?

aula 05 - trovadorismo II

Periodização da Literatura em Portugal e no Brasil:
A história da literatura portuguesa, tal qual conhecemos hoje, tem início em meados do século XII, quando Portugal se constitui como um estado independente.
Os mais de oito séculos de produção literária portuguesa são divididos em três grandes eras:

• ERA MEDIEVAL
• ERA CLÁSSICA
• ERA ROMÂNTICA OU MODERNA

Em função dos estilos individuais dos artistas (maneira particular de utilizar a língua), do contexto histórico e das tendências de cada período, estas eras literárias foram subdivididas em fases menores, chamadas Estilos de Época ou Escolas Literárias, conforme vemos no quadro abaixo:

A história da literatura brasileira, como não podia deixar de ser, está intimamente ligada à história literária de Portugal e também dividise em eras histórico-literárias, tendo como marco de separação a independência da colônia:

• ERA COLONIAL
• ERA NACIONAL
Esta delimitação cronológica, recurso puramente didático, não deve ser entendida de forma rígida, como se as Escolas fossem compartimentos estanques presos a certas datas arbitrariarmente estabelecidas. Ao contrário, um mesmo autor pode apresentar características de várias escolas, independentemente da época e, as datas representam apenas marcos históricos, isto porque, sempre há um período de transição entre a ascensão de um Estilo e o declínio de outro.

ERA MEDIEVAL
ERA ROMÂNTICA/ ERA MODERNA
ERA COLONIAL
ERA NACIONAL
TROVADORISMO
O início das chamadas literaturas de línguas modernas ocorre com a produção dos poetas da Idade Média, conhecidos como trovadores. O termo trovador origina-se de trobadour, que significava “achar”, “encontrar”. Cabia ao poeta “encontrar” a música e adequá-la aos versos. Neste período as composições eram basicamente compostas para serem cantadas ao som de instrumentos como a lira, a cítara, harpa ou viola, daí serem chamadas de cantigas. Os artistas medievais eram classificados em:

Trovador – geralmente nobre, possuidor de uma cultura erudita, não recebia por suas composições;
Jogral – compositor, saltimbanco ou ator que recebia por suas apresentações;
Segrel – fidalgo decaído que apresentava-se nas cortes, em troca de dinheiro, juntamente com seu jogral. Pode ser considerado um trovador profissional;
Menestrel – artista que servia a uma determinada corte;
Jogralesa ou soldadeira – moça que acompanhava os artistas dançando, cantando e tocando castanholas.

O primeiro texto literário português que se tem registro é a “Cantiga da Guarvaia” ou “Cantiga da Ribeirinha” (1189 ou 1198), cantiga de amor de autoria de Paio Soares de Taveirós.
CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL
O séculos XI e XII são marcados pelo feudalismo, no plano político-econômico e pelo espírito teocêntrico (deus como o centro de todas as coisas), no plano religioso. A sociedade medieval, composta basicamente pelo clero, nobreza e camponeses, estava estruturada numa relação de suserania e vassalagem, através da qual os vassalos (povo) serviam e obedeciam ao suserano (senhor feudal) em troca de proteção e assistência econômica. Tal estrutura era mantida graças ao teocentrismo, que difundia a idéia de destino, fazendo com que o povo aceitasse sua posição subalterna sem contestação, uma vez que esta era ordem divina. Este dois traços histórico-culturais irão influenciar toda a produção literária trovadoresca, não só na poesia mas também na prosa.

PRODUÇÃO LITERÁRIA
CANTIGAS
O que conhecemos da poesia trovadoresca, anterior ao aparecimento da escrita, está contido em obras conhecidas como cancioneiros, manuscritos antigos encontrados a partir do final do século
XVIII. Os três mais importantes são:

• Cancioneiro da Ajuda ou do Real Colégio dos Nobres – reúne 310 composições, das quais 304 são cantigas de amor , foi organizado por D. Dinis e é o mais antigo de todos. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Portugal.

• Cancioneiro da Vaticana – reúne 1205 poesias, de autoria de 163 trovadores. Conserva-se ainda hoje na Biblioteca do Vaticano, em Roma.

• Cancioneiro da Biblioteca Nacional – também conhecido por Cancioneiro de Colocci-Brancuti, em homenagem a um de seus antigos possuidores. É o mais completo de todos, contendo 1647 cantigas de todos os gêneros. Encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, em Portugal. Há ainda, segundo alguns estudiosos, as Cantigas de Santa Maria, um cancioneiro de poesias religiosas composto por 426 produções acompanhadas das respectivas músicas.

Toda esta produção poética dividi-se em: De amor; Líricas; De amigo; Cantigas De escárnio; Satíricas e De maldizer

Nas Cantigas de Amor, de origem provençal (Provença região sulda França), o trovador, posicionando-se num plano inferior – como um vassalo, canta o sofrimento pelo amor não correspondido e as qualidades de uma mulher idealizada e inatingível, a quem chama de “minha senhor”.
“Senhor fremosa, pois me non queredes
creer a coita en que me tem amor,
por meu mal é que tan bem parecedes
por meu mal vos filhei por senhor
e por meu mal tan muito bem oí
dizer de vós, por meu mal vos vi
pois meu mal é quanto bem vós havedes.”
(Martim Soares, século XIII)

Originárias da Península Ibérica, as Cantigas de Amigo apresentam um eu-lírico feminino, embora fossem produzidas por homens. Nelas a mulher canta a ausência do “amigo” que está afastado, geralmente a serviço do rei ou em guerras. Ao contrário das primeiras, que refletiam a corte, as Cantigas de Amigo descrevem um ambiente pastoril, a moça ao cantar seus sentimentos dialoga com a mãe, a amiga e elementos da natureza.

“Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
e ai deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
e ai Deus, se verrá cedo!...”
( Martim Codax, século XIII)

Produzidas com o objetivo de satirizar as pessoas e os costumes da época, as Cantigas de Escárnio continham uma sátira indireta, marcada por ambigüidades e sutilezas, dificultando a identificação da pessoa atacada.
“Ua dona, nom digu’eu qual,
non agoirou ogano mal
polas oitavas de Natal:
ia por as missa oir
e ouv’un corvo carnaçal,
e non quis da casa sair...”
(Joan Airas de santiago, século XIII)

Já as Cantigas de Maldizer continham ataques diretos, sem a preocupação de ocultar a identidade da pessoa satirizada, apresentando muitas vezes expressões de baixo nível e obscenidades.

“Ai, don fea! Fostes-vos queixar
porque vos nunca louv’en meu trobar;
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandía...”
(Joan Garcia de Guilhade, século XIII)

Quadros comparativos entre as cantigas:

Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo

- origem provençal - origem galego-portuguesa
- eu-lírico masculino - eu-lírico feminino
- objeto desejado: a dama, 0 “senhor”
- objeto desejado: o amigo
- o homem presta a vassalagem amorosa; sofre pelo amor não correspondido – “coita”
- a mulher sofre pelo amante, namorado ausente
- mulher idealizada, superior - mulher real, mais concreta
- ambiente palaciano (aristocrático) - ambiente rural (popular)

Cantigas de Escárnio Cantigas de Maldizer
- ataque indireto - ataque direto
- predomínio da ironia e do sarcasmo - predomínio de palavras chulas (baixo nível)
- crítica a costumes, pessoas e acontecimentos
- crítica a costumes, pessoas e acontecimentos
- não declaração de nomes - declaração do nome pessoa criticada
PROSA
A prosa medieval, posterior à poesia, é representada basicamente pelas novelas de cavalaria, narrativas de cunho cavaleiresco e religioso que contavam as aventuras de grandes reis e seus cavaleiros. Destacam-se entre elas a História de Merlim, José de Arimatéia e a Demanda do Santo Graal. Havia também outros textos em prosa, assim divididos:

• Hagiografias – biografia de santos
• Livros de Linhagens ou Nobiliários – relatos genealógicos de famílias nobres
• Cronicões – livros de crônicas

Costuma-se afirmar, didaticamente, que o Trovadorismo termina com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418, marcando o início do Humanismo

segunda-feira, 8 de junho de 2009

aula 05: trovadorismo

aula 05: trovadorismo
Podemos dizer que o trovadorismo foi a primeira manifestação literária da língua portuguesa. Surgiu no século XII, em plena Idade Média, período em que Portugal estava no processo de formação nacional.

Marco inicial

O marco inicial do Trovadorismo é a “Cantiga da Ribeirinha” (conhecida também como “Cantiga da Garvaia”), escrita por Paio Soares de Taveirós no ano de 1189. Esta fase da literatura portuguesa vai até o ano de 1418, quando começa o Quinhentismo.

Trovadores

Na lírica medieval, os trovadores eram os artistas de origem nobre, que compunham e cantavam, com o acompanhamento de instrumentos musicais, as cantigas (poesias cantadas). Estas cantigas eram manuscritas e reunidas em livros, conhecidos como Cancioneiros. Temos conhecimento de apenas três Cancioneiros. São eles: “Cancioneiro da Biblioteca”, “Cancioneiro da Ajuda” e “Cancioneiro da Vaticana”.

Os trovadores de maior destaque na lírica galego-portuguesa são: Dom Duarte, Dom Dinis, Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade, Aires Nunes e Meendinho.

No trovadorismo galego-português, as cantigas são divididas em: Satíricas (Cantigas de Maldizer e Cantigas de Escárnio) e Líricas (Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo).

Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores faziam sátiras diretas, chegando muitas vezes a agressões verbais. Em algumas situações eram utilizados palavrões. O nome da pessoa satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou não.

Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.

Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor não correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (suserana) e espera receber um benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não correspondido).

Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é um homem, nas de Amigo é uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.



CANTIGAS DE ESCÁRNIO

De vós, senhor, quer’eu dizer verdade
e nom ja sobr’[o] amor que vos ei:
senhor, bem [moor] é vossa torpicidade
de quantas outras eno mundo sei;
assi de fea come de maldade
nom vos vence oje senom filha dum rei
[Eu] nom vos amo nem me perderei,
u vos nom vir, por vós de soidade[...]


Pero Larouco

Tradução:
Sobre vós, senhora, eu quero dizer verdade
e não já sobre o amor que tenho por vós:
senhora, bem maior é vossa estupidez
do que a de quantas outras conheço no mundo
tanto na feiúra quanto na maldade
não vos vence hoje senão a filha de um rei
Eu não vos amo nem me perderei
de saudade por vós, quando não vos vir.


CANTIGA DE MALDIZER

João Garcia de Ghilhade

Ai, dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi pardom,
pois avedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero ja loar toda via;
e vedes qual sera a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora ja um bom cantrar farei,
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!


Tradução:
Ai, dona feia, foste-vos queixar
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha trovado muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer modo;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e maluca!



AS CANTIGAS DE AMOR

D. Dinis
Quer’eu em maneira de proença!
fazer agora um cantar d’amor
e querrei muit’i loar lmia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedord
e todo bem e de mui gram valor,
e com tod’est[o] é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem
quando nom quis lh’outra
foss’igual
Ca mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad’e loor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit’, e por esto nom sei oj’eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.


Tradução:

Quero à moda provençal
fazer agora um cantar de amor,
e quererei muito aí louvar minha senhora
a quem honra nem formosura não faltam
nem bondade; e mais vos direi sobre ela:
Deus a fez tão cheia de qualidades
que ela mais que todas do mundo.
Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo
quando a fez, que a fez conhecedorad
e todo bem e de muito grande valor,
e além de tudo isto é muito sociável
quando deve; também deu-lhe bom senso,
e desde então lhe fez pouco bem
impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela
Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,
mas pôs nela honra e beleza e mérito
e capacidade de falar bem, e de rir melhor
que outra mulher também é muito leal
e por isto não sei hoje quem
possa cabalmente falar no seu próprio bem
pois não há outro bem, para além do seu.

AS CANTIGAS DE AMIGO
Martim Codax
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ai Deus, se verra cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu amado,
por que ei gran coitado?
E ai Deus, se verra cedo!

Tradução:

Ondas do mar de Vigo,
acaso vistes meu amigo? Queira Deus que ele venha cedo!
Ondas do mar agitado,
acaso vistes meu amado?
Queira Deus que ele venha cedo!
Acaso vistes meu amigo
aquele por quem suspiro?
Queira Deus que ele venha cedo!
Acaso vistes meu amado,
por quem tenho grande cuidado (preocupado) ?
Queira Deus que ele venha cedo!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

leitura complementar à aula 04

Gêneros literários

A LITERATURA É A ARTE QUE SE MANIFESTA PELA PALAVRA, SEJA ELA FALADA OU ESCRITA. Quanto à forma, o texto pode apresentar-se em prosa ou verso. Quanto ao conteúdo, estrutura, e segundo os clássicos, conforme a "maneira de imitação", podemos enquadrar as obras literárias em três gêneros:

· Lírico: quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado; centra-se no mundo interior do Poeta apresentando forte carga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica marcante do lírico. O Poeta posiciona-se em face dos "mistérios da vida". A lírica já foi definida como a expressão da "primeira pessoa do singular do tempo presente".(*)

· Dramático: quando os "atores, num espaço especial, apresentam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento". Retrata, fundamentalmente, os conflitos humanos.(*)

· Épico: quando temos uma narrativa de fundo histórico; são os feitos heróicos e os grandes ideais de um povo o tema das epopéias. O narrador mantém um distanciamento em relação aos acontecimentos (esse distanciamento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: (os fatos narrados situam-se no passado). Temos um Poeta-observador voltado, portanto, para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. A objetividade é característica marcante do gênero épico. A épica já foi definida como a poesia da "terceira pessoa do tempo passado".

Esta divisão tradicional em três gêneros literários originou-se na Grécia clássica, com Aristóteles, quando a poesia era a forma predominante de literatura. Por nos parecer mais didática, adotamos uma divisão em quatro gêneros literários, desmembrando do épico o gênero narrativo (ou, como querem alguns, a ficção), para enquadrar as narrativas em prosa.(*)

Poderíamos reconhecer ainda o gênero didático, despido de ficção e não identificado com a arte literária; segundo Wolfang Kayser, "o didático costuma ser delimitado como gênero especial, que fica fora da verdadeira literatura".

Gênero Lírico

Seu nome vem de lira, instrumento musical que acompanhava os cantos dos gregos. Por muito tempo, até o final da Idade Média, as poesias eram cantadas; separando-se o texto do acompanhamento musical, a poesia passou a apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, a métrica (a medida de um verso, definida pelo número de sílabas poéticas), o ritmo das palavras, a divisão em estrofes, a rima, a combinação das palavras foram elementos cultivados com mais intensidade pelos poetas.

Mas, cuidado! O que foi dito acima não significa que poesia, para ser poesia, precise, necessariamente, apresentar rima, métrica, estrofe. A poesia do Modernismo, por exemplo, desprezou esses conceitos; é uma poesia que se caracteriza pelo verso livre (abandono da métrica), por estrofes irregulares e pelo verso branco, ou seja, o verso sem rima. O que, também, não impede que "subitamente na esquina do poema, duas rimas se encontrem, como duas irmãs desconhecidas..."

Gênero Dramático

Drama, em grego, significa "ação". Ao gênero dramático pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Isso significa que entre autor e público desempenha papel fundamental o elenco (incluindo diretor, cenógrafo e atores) que representará o texto.

O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:

· Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era "uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror".(*)

· Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua origem grega está ligada às festas populares, celebrando a fecundidade da natureza.(*)

· Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.(*)

· Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que crítica a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores (Rindo, castigam-se os costumes). (*)

Gênero Épico

A palavra "epopéia" vem do grego épos, ‘verso’+ poieô, ‘faço’ e se refere à narrativa em forma de versos, de um fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja característica maior é a presença de um narrador falando do passado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um episódio grandioso e heróico da história de um povo.

Dentre as principais epopéias (ou poemas épicos), destacamos:

Ilíada e Odisséia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre Grécia e Tróia).

Eneida (Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos)

Paraíso Perdido (Milton, Inglaterra)

Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itália)

Os Lusíadas (Camões, Portugal)

Na literatura brasileira, as principais epopéias foram escritas no século XVIII:

Caramuru (Santa Rita Durão)

O Uraguai (Basílio da Gama)

Gênero Narrativo

O Gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance, a novela e o conto. (*)

Em qualquer das três modalidades acima, temos representações da vida comum, de um mundo mais individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses.

As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento desde o final do século XVIII, são também comumente chamadas de narrativas de ficção.

· Romance: narração de um fato imaginário, mas verossímil, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo da vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com passagem mais lenta do tempo. Dependendo da importância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao espaço, podemos ter romance de costumes, romance psicológico, romance policial, romance regionalista, romance de cavalaria, romance histórico, etc.(*)

· Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distinção entre novela e romance é quantitativa: vale a extensão ou o número de páginas. Entretanto, podemos perceber características qualitativas: na novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limitado da vida, a passagem do tempo é mais rápida, e o que é mais importante, na novela o narrador assume uma maior importância como contador de um fato passado.(*)

· Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um episódio da vida. O crítico Alfredo Bosi, em seu livro O conto brasileiro contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto "já desnorteou mais de um teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto no interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu espaço todas as possibilidades da ficção".(*)

· Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como objetivo transmitir uma lição moral. Normalmente a fábula trabalha com animais como personagens. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo. (*)

A fábula é das mais antigas narrativas, coincidindo seu aparecimento, segundo alguns estudiosos, com o da própria linguagem. No mundo ocidental, o primeiro grande nome da fábula foi Esopo, um escravo grego que teria vivido no século VI a.C. Modernamente, muitas das fábulas de Esopo foram retomadas por La Fontaine, poeta francês que viveu de 1621 a 1695. O grande mérito de La Fontaine reside no apurado trabalho realizado com a linguagem, ao recriar os temas tradicionais da fábula. No Brasil, Monteiro Lobato realizou tarefa semelhante, acrescentando, às fábulas tradicionais, curiosos e certeiros comentários dos personagens que viviam no Sítio do Picapau Amarelo.

leitura complementar: ortografia













domingo, 17 de maio de 2009

aula 04: genero literário - épico e lírico

O gênero épico (narrativo)

Todos os povos tem as suas narrativas. A forma como as organizam pode variar, os meios através dos quais circulam podem ser diferentes, mas o fato é que contar histórias parece ser uma atividade própria da natureza humana.

Dos poemas orais ao romance contemporâneo, a literatura registra a trajetória das narrativas e seu estudo nos ajuda a compreender as mudanças formais e de conteúdo por que passaram.

As narrativas mais antigas apresentam uma característica comum: todas contam os feitos extraordinários de um herói.

>>> Os longos poemas narrativos, em que um acontecimento histórico protagonizado por um herói é celebrado em estilo solene, grandioso, são chamados de épicos ou epopeias. O temo deriva do grego épos, dentre os seus significados, que dizer palavra, verso, discurso.

Observe a cena de abertura da Odisseia, podemos identificar algumas das características típicas da épica:

Musa, reconta-se os feitos do herói astucioso que muito
peregrinou, dês que esfez as muralhas sagradas de Troia;
muitas cidades dos homens viajou, conheceu seus costumes,
como no mar padeceu sofrimentos inúmeros na alma,
para que a vida salvasse e de seus companheiros a volta.
(Homero, Odisseia.)

O poeta pede inspiração as musas para contar a história de um herói, Odisseu (também chamado de Ulisses), que peregrinou por muitas cidades e sofreu terríveis provocações desde que desfez as muralhas sagradas de Troia. Aí sua superioridade diante de outros homens.
A estrutura do poema épico

Toda epopeia apresenta uma organização interna. Como se trata de um poema longo, a epopeia é dividida em várias partes, denominadas cantos. Na estrutura da epopeia, os cantos são organizado de modo a cumpir funções preestabelecidas:
Proposição: o poeta define o tema e o herói de seu poema.
Invocação:o poeta pede a musa ( divindade inspiradora da poesia) que lhe inspire, para desenvolver com maestria o tema de seu poema.
Narração: o poeta narra as aventuras de seu herói.
Conclusão: o poeta encerra sua narrativa, após relatar os feitos gloriosos que marcaram a trajetória de seu herói.

O genero lírico

Na Grécia Antiga, as epopeias cumpriram um importante papel de divulgar os ideais e valores que organizavam a vida na polis (em grego, cidade ou estado). Os poemas épicos, porém, não respondiam ao anseio humano de expressão individual e subjetiva.

A poesia lírica surge como uma forma de atender a esse anseio. Ela se define pela expressão de sentimentos e emoções pessoais. Uma outra marca característica de sua estrutura é o fato de dar voz a um sujeito lírico, diferente da narração impessoal própria da épica.

Em uma tentativa de explicar a relação entre poesia e a expressão de sentimentos, o poeta norte-americano Robert Frost dizia que o poema nasce de um nó na garganta, de um sentimento de que algo está errado, das saudades de casa, das amarguras do amor, para ganhar forma no pensamento, que encontra as palavras exatas para expressá-lo.

As primeiras manifestações líricas

No início, os poemas líricos eram cantados, geralmente acompanhados pela lira, um instrumento musical de cordas. Foi do nome desse instrumento que derivou a denominação do gênero literário como lírico.

A separação entre poesia e música só aconteceu depois da invenção da imprensa, no século XV, quando a cultura escrita passou a prevalecer sobre cultura oral. É por essa razão que, para os antigos, a lírica é sempre associada a música e ao canto, enquanto, para os modernos ela se define essencialmente pela expressão subjetiva.

Embora vários poetas da Antiguidade tenham se dedicado tenham se dedicado à composição de poemas líricos, esse gênero literário não era tão valorizado quanto o épico ou o dramático.

Foi somente no Renascimento italiano que a poesia de expressão subjetiva ganhou o renascimento equivalente ao dos demais gêneros. Isso aconteceu quando o gosto do público leitor foi conquistado pela poesia amorosa de Petrarca e seus seguidores. Desse momento em diante, consolidou-se a identificação da lírica como um dos três grandes gêneros literário.
Formas da lírica

Desde o nascimento da lírica, vários foram as estruturas utilizadas na composição de poemas. Algumas se tornaram mais conhecidas, uma vez que permaneceram em uso ao longo dos séculos. São elas:

A elegia: poema surgido na Grécia Antiga que trata de acontecimentostristes, muitas vezes enfocando a morte de um querido ou de alguma personalidade pública.
A écloga: poema pastoril que retrata a vida bucólica dos pastores, em um ambiente campestre.
A ode: poema também originado na Grécia Antiga que exalta valores nobres, caracterizando-se pelo tom de louvação.
O soneto: a mais conhecida das formas líricas. Poema de 14 versos, organizados em duas estrofesde quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (terceto).

Recursos poéticos

Quando lemos um texto, nossa atenção costuma se voltar para o sentido das palavras. Ao fazer isso, analisamos seu aspecto semântico. As palavras, porém, também têm uma sonoridade muito explorada pela literatura. Essa sonoridade é a base para a construção de recursos poéticos, como ritmo, o metro e a rima.

Ritmo pode ser definido como um movimento regular, repetitivo. Na música, é a sucessão de tempos fortes e fracos que estabelece o ritmo. Na poesia, ele é marcadoprincipalmente pela alternância entre acentos (sílabas átonas/tônicas) e pausas.

O metro é o número de sílabas métricas de um verso. A contagem dessas silabas chama-se metrificação. Quando contamos sílabas em um verso, não devemos considerar as que ocorrem após uma sílaba tônica do verso.

Rima é a coincidência ou a semelhança de sons a partir da vogal tônicano fim dos versos.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

atividade 03 - linguagem literária

Literatura é uma linguagem

O texto a seguir serve de base para as questões a, b e c.

O rio e o tempo

Mariano, o narrador protagonista do romance Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, relembra com carinho a presença poética de Juca Sabão, seu primeiro mestre na vida e no viver.

“Juca Sabão era para mim uma espécie de primeiro professor, para além da minha família. Foi ele que me levou ao rio, me ensinou a nadar, a pescar, me encantou de mil lendas. [...]
As lembranças me surgem velozes como nuvens. Recordo aquela vez em que Sabão se encomendou de uma expedição: queria subir o rio até à nascente. Ele desejava decifrar os primórdios da água, ali onde a gota engravida [...]. Juca sabão muniu-se de mantimentos e encheu a canoa com os mais estranhos e desnecessários acessórios, desde bandeiras a cornetas. Demorou umas tantas semanas. Regressou e fui o primeiro a recebê-lo, nas escadas do cais. Olhou-me, cansado, e disse:
— O rio é como o tempo!
Nunca houve princípio, concluía. O primeiro dia surgiu quando o tempo já há muito se havia estreado. Do mesmo modo, é mentira haver fonte do rio. A nascente é já o vigente rio, a água em flagrante exercício.
— O rio é uma cobra que tem a boca na chuva e a cauda no mar.
Assim proferindo, Juca Sabão me pediu que me aproximasse. Seus dedos me fecharam as pálpebras como se faz aos falecidos. Certas coisas vemos melhor é com os olhos fechados. [...]”
Mia Couto. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

a) O trabalho com a linguagem literária, nesse texto, caracteriza-se pelo uso de comparações e metáforas.
▪ Identifique os trechos em que ocorrem comparações.
▪ Faça o mesmo com as metáforas.

b) Explique de que maneira a presença das comparações e metáforas no texto desencadeia, no leitor, uma percepção de natureza mais sensorial.

c) Releia a seguinte passagem: “Certas coisas vemos melhor é com os olhos fechados.”
▪ A linguagem foi utilizada, aqui, para fazer referência a algo aparentemente impossível. Na verdade, o narrador cria uma bela imagem ao recorrer a uma figura de linguagem denominada paradoxo. O que o narrador quer dizer com a imagem criada? Explique.


quarta-feira, 6 de maio de 2009

aula 03: a linguagem da literatura

A linguagem da literatura

A essência da arte literária está na palavra. Usada por escritores e poetas em todo o seu potencial significativo e sonoro, a palavra estabelece uma interessante relação entre um autor e seus leitores/ouvintes.

Denotação e Conotação
O sentido conotativo (ou figurado) é aquele que as palavras e expressões adquirem em um dado contexto, quando o sentido literal é modificado. Nos textos literários, predomina o sentido conotativo. A linguagem conotativa é característica de textos com função estética, ou seja, que exploram diferentes recursos linguísticos e estilísticos para produzir um efeito artístico.

Em textos não-literários, o que predomina é o sentido denotativo (ou literal). Dizemos que a palavra foi utilizada em sentido literal quando é tomada em seu significado básico.

O poder de explorar sentido
Quando as palavras assumem no texto literário diferentes significados, dizemos que ocorre um processo de plurissignificação

Observe o poema:

Profundamente
[…]
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje eu não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onda estão todos eles?

_ Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
(Manuel Bandeira)

Recursos da linguagem literária: o poder das imagens
Picasso, Vaso com flores, guache sobre papel. Nessa obra, a beleza se equilibra em um objeto bastante cotidiano, representado com economia de cores e traços. E prova como a beleza pode mesmo estar nas coisas mais simples.
A literatura propõe aos leitores um “novo olhar” para coisas, acontecimentos e sentimentos conhecidos.
Como caracterizar um “novo” olhar para algo que existe há muito tempo ou que é muito familiar? A resposta, mais uma vez, está na linguagem.
Observe:
Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento
(Adélia Prado)

No poema, o significado de trem de ferro vai além da sua descrição funcional (“coisa mecânica): ele representa as chegadas e partidas, traz ou leva pessoas de quem gostamos muito e, assim, “atravessa” a vida das pessoas, transforma-se em sentimento.

A imagem final do poema revela a sensibilidade que marca o olhar do artista e lhe dá condições para reconhecer, no mundo à sua volta, a beleza presente nas coisas mais simples. Encontrando as palavras adequadas, ele registrando texto a beleza que reconheceu e propõe ao leitor que percorra o mesmo caminho.

Desta forma , podemos concluir que a literatura cria as condições para que também nós, leitores, olhemos de modo inovador para o mundo e, ao fazer isso, reconheçamos uma beleza que, a primeira vista, não pareceu estar ali.

Comparações: a concretização de emoções
As comparações são um importante recurso do texto literário. Por meio delas, os escritores procuram traduzir certas emoções, certos modos de ver e sentir.

Madrigal
Meu amor é simples, Dora,
Como a água e o pão.

Como o seu refletido
Nas pupilas de um cão.
(José Paulo Paes)

Para definir o seu amor por Dora, o eu lírico recorre à semelhança entre esse sentimento e dois alimentos vitais para os seres humanos: o pão e a água. A aproximação entre o amor, o pão e a água sugere que esse sentimento é tão essencial para o eu lírico quanto os alimentos mais básicos.

Metáforas: afirmação de semelhanças inusitadas
Em grego, o termo metaphorá significa mudança, transposição. Na origem das metáforas, portanto, existe um processo de substituição: aproximam-se dois elementos que, em um contexto específico, guardam alguma relação de semelhança, transferindo-se, para um deles, características do outro.

Livre-arbítrio
Todo mundo é toureiro.
Cada um escolhe o
touro que quiser na vida.
O toureiro escolheu o
próprio
touro.
(Cacaso)

O título do poema, “livre-arbítrio”, faz referência ao direito de escolher nosso próprio caminho. No texto, essa idéia é associada às dificuldades que o caminho escolhido nos impõe.
Quando afirma que “todo mundo é toureiro”, Cacaso transfere para as pessoas um comportamento típico de quem enfrenta touros em uma arena: passar todo o tempo tentando evitar os “ataques” do inimigo, enquanto se procura derrotá-lo.
Assim, o poema afirma uma semelhança entre a ação de um toureiro e o modo como as pessoas enfrentam seus enfrentam seus problemas e desafios. A análise dos dois comportamentos revela a substituição que está na origem dessa metáfora.

domingo, 3 de maio de 2009

atividade 02: arte, literatura e seus agentes

Atividade: Filme - Sociedade dos Poetas Mortos
Assista ao filme após ter lido as questões abaixo.

a) Que tipo de sociedade é caracterizada no filme (pense, por exemplo, nas relações entre pais e filhos e entre professores e alunos)?
b) Por que o professor John Keating propõe o conceito de carpe diem como “lema” para seus alunos? Que relação se pode estabelecer entre tal conceito e os valores adotados como “lema” na Welton Academy?
c) Por que o professor manda os alunos rasgarem a introdução do livro em que estudam?
d) O que é poesia na visão de John Keating? Que relação há entre essa definição e o que foi visto no capítulo 1 do livro?
e) O filme apresenta, em diferentes momentos, algumas cenas em que, por meio do cenário, sentimentos fortes são sugeridos ao espectador. A que cena é possível associar a idéia de liberdade? E de amizade?

aula 02: arte, literatura e seus agentes

Agentes literários
Para estudo dos agente literários precisamos, antes de mais nada, estarmos livres de preconcietos. Não julgando "o livro pela capa" (discussão a partir do vídeo da cantora escocesa, Susan Boyle >>>Veja em: http://www.youtube.com/watch?v=9lp0IWv8QZY ) mantendo um olhar atento as pistas que o autor nos deixa. Os mesmo elementos que participam da composição da obra contribuem para sua análise.
Observe a obra abaixo o uso dos agentes literários na análise da obra de Basquiat:



Mona lisa, de Jean-Michel Basquiat, 1980

a) Que tipo de informação que pode ser encontrado em uma obra de arte visual. Observe os traços, o uso das cores, a presença (ou não) de elementos verbais etc. Todas essas informações fornecem pistas sobre o momento em que uma obra de arte foi criada.

b)identifique as pistas presentes na tela. A imagem se parece com alguma outra conhecida? Em que momento essa tela pode ter sido criada?


Mona lisa, de Leonardo da Vinci, 1503

c) Observe as diferenças no modo de retratar a figura feminina. No quadro de Leonardo, a Gioconda aparece como o elemento central, que captura o olhar do observador. Suas formas e traços são realistas. O cenário funciona somente como pano de fundo para o retrato. Nada disso acontece no caso da obra de Basquiat, que evidentemente faz uma “releitura” do quadro de Leonardo.

d) Note os elementos da nota de US$ 1,00 que foram “espalhados” por Basquiat em sua Mona Lisa. Veja que é como se Basquiat tivesse substituído a efígie de George Washington, no centro da nota de um dólar, por sua Mona Lisa.

e) Reflita sobre as questões propostas e responda a cada uma delas a partir das informações obtidas na comparação entre as obras de Leonardo e Basquiat, e entre a Mona Lisa de Basquiat e a nota de US$ 1,00.

g) A inserção dos elementos da nota de US$ 1,00 sugere importantes questões sobre o significado da arte no mundo contemporâneo, problematizam o valor essencialmente financeiro associado a obras de mestres como Leonardo da Vinci, questionam a definição de beleza, em que perfil de público o artista pensou enquanto criava uma obra como essa etc.

>>>> O objetivo desta aula nao está na análise da obra de Basquiat em si, mas em como os agentes literários nos permitem decifrá-la.

atividade 01: Arte, literatura e seus agentes

Le Blanc, seing - de René Magritte
a) Responda.
• Que cores predominam?
• Que figuras estão pintadas no quadro?
b) Observe cada figura separadamente e depois o conjunto das figuras no quadro.
• A representação de cada uma delas pode ser considerada real? Justifique.
• O que no quadro pode ser considerado irreal?
• Que jogo é feito pelo pintor no quadro?
• Qual seria sua intenção ao promover esse jogo?
c) O modo original e estranho como Magritte pinta seus quadros nos faz ver a realidade de outro ponto de vista. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
d) Leia o que o próprio Magritte afirmou sobre suas obras.
“Pintei quadros onde os objetos estavam representados com a aparência que têm na realidade, de uma maneira bastante objetiva, a fim de que o efeito perturbador que, graças a certos meios, eles podiam provocar, se encontre no mundo real, onde estes objetos existem, devido a uma troca totalmente natural.” Disponível em: http://zgm.sites.uol.com.br/merciaribeiro.htm. Acesso em: 28 nov. 2005.Essa afirmação do pintor pode ser observada no quadro? Explique.

leitura complementar: literatura e realidade

[analise a reportagem pensando nos dois temas desta discussão: as ligações entre literatura e realidade e a influência do mercado sobre as formas literárias].
Tão novos, tão polêmicos
(Revista Veja. 2004)

Escritores jovens causam barulho com livros que abrem uma janela para o lado secreto da adolescência

Desde que lançou o romance Doze, aos 17 anos, o americano Nick McDonell, hoje com 20, vem sendo abordado por pais preocupados. Querem saber se os adolescentes de fato freqüentam festas com drogas e muito sexo, tal como a que é descrita no livro. A mesma reação escandalizada cerca os livros da francesa Lolita Pille, 21, e da italiana Melissa Panarello, 18. A primeira tinha 19 quando lançou Hell – Paris 75016, em que retrata a existência desregrada de uma patricinha parisiense. Melissa publicou no ano passado Cem Escovadas Antes de Dormir, acusado de pornográfico por seu relato das atividades sexuais atípicas (leia-se orgias e sadomasoquismo) de uma adolescente. Também elas são bombardeadas por perguntas sobre as loucuras que descrevem. As respostas dos três autores variam. Melissa e Lolita juram que seus livros são autobiográficos, enquanto McDonell não tinha experiência com drogas quando escreveu Doze. Seja como for, os três livros se alimentam de uma mesma idéia: a de que os adolescentes formam uma tribo à parte e têm vidas que os adultos desconhecem. Os escritores jovens fazem barulho ao abrir janelas para um mundo supostamente escondido de sentimentos e experiências.
Essa janela literária é relativamente recente. A história da literatura registra alguns talentos precoces, como o poeta francês Arthur Rimbaud e, no Brasil, Álvares de Azevedo. Esses autores não tinham, porém, a juventude como tema central. Há também uma tradição de obras que dramatizam a passagem da adolescência para a maturidade. São os "romances de formação" – Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe, é o maior exemplo. São todos livros escritos por adultos. Hoje, pelo contrário, vêem-se cada vez mais adolescentes escrevendo sobre adolescência. A vertente mais encorpada dessa literatura é confessional. Memórias de jovens que viveram situações extremas ou momentos históricos traumáticos constituem um filão próprio. O clássico do gênero é O Diário de Anne Frank, escrito por uma adolescente judia que morreu num campo de concentração. Há também Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída, de 1979 – mas Christiane não escrevia: o livro é um depoimento registrado por jornalistas. Na mesma linha, nos anos 90, durante a guerra na Bósnia, uma menina de 11 anos, Zlata Filipovic, registrou seu cotidiano em Saravejo em outro diário transformado em livro. No Brasil, pode-se lembrar de Feliz Ano Velho, escrito por Marcelo Rubens Paiva aos 23 anos, e, mais recentemente, da ex-menina de rua Esmeralda Ortiz, que contou suas experiências em Por que Não Dancei.
Lançar um texto de ficção que desperte algum interesse é mais difícil e incomum. "Desde os 9 anos eu queria publicar um livro. Mas precisei crescer antes de conseguir escrever algo que valesse a pena", conta a carioca Simone Campos, de 20 anos, que publicou a novela No Shopping quando tinha 17. Ao contrário do que acontece na música ou na matemática, é raro realizar feitos literários muito cedo. Tanto assim que o dramaturgo Nelson Rodrigues, com sua acidez habitual, oferecia um único conselho aos jovens que desejavam escrever: envelhecer depressa. Mas, independentemente das limitações que a crítica – e a autocrítica – imponha à garotada com ambições literárias, o mercado editorial parece ter encontrado um espaço para os seus livros. A cultura jovem é cada vez mais variada, cada vez mais tomada por tipos peculiares de música, de gíria, de drogas. Não faltará lugar para aqueles que proponham abrir uma fresta para esse mundo – com um pouco mais ou um pouco menos de ficção.
Realidade cifrada

– Você disse que todo bom romance é uma transposição poética da realidade. Poderia explicar? – Sim, acho que um romance é uma representação cifrada da realidade. A realidade que se maneja num romance é diferente da realidade da vida, embora se apóie nela. – O tratamento da realidade nos seus livros recebeu o nome de realismo mágico. Tenho a impressão de que seus leitores europeus percebem a magia das coisas que você conta, mas não a realidade que as inspira... – Certamente porque o seu racionalismo os impede de ver que a realidade não termina no preço dos tomates ou dos ovos. A vida cotidiana na América Latina nos demonstra que a realidade está cheia de coisas extraordinárias. Conheço gente inculta que leu Cem Anos de Solidão com muito prazer e cuidado, mas sem surpresa alguma, pois afinal não lhes conto nada que não pareça com a vida que eles vivem. – Então, tudo o que você põe nos seus livros tem uma base real? – Não há nos meus romances uma linha que não esteja baseada na realidade. Texto adaptado de Cheiro de Goiaba, Gabriel García Márquez, Ed. Record, tel. (21) 2585-2000
Basta mobiliar o mundo
Entendo que para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado possível. Constrói-se um rio e na margem esquerda coloca-se um pescador, e, se esse pescador possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se começar a escrever. Que faz um pescador? Pesca. E depois? Ou há peixes que mordem a isca ou não há. Se há, o pescador os fisga e vai para casa todo contente. Fim da história. Se não há, como ele é temperamental, talvez se irrite, talvez quebre a vara de pescar. Não é muita coisa, mas já é um esboço. Mas existe um provérbio indiano que diz "senta-te à beira do rio e espera, o cadáver do teu inimigo não tardará a passar". E se, levado pela correnteza, passasse um cadáver? Não se pode esquecer que o meu pescador tem uma folha penal suja. Quererá correr o risco de meter-se na enrascada? Fugirá, fingindo não ver o cadáver? Temperamental como é, ficará furioso por não ter realizado ele próprio a sonhada vingança? Como se vê, bastou mobiliar nosso mundo e já se tem o início de uma história. O problema é construir o mundo, as palavras virão quase por si sós.
(Texto adaptado de Pós-Escrito a O Nome da Rosa, Umberto Eco, Ed. Nova Fronteira, tel. (21) 2537-8770)
Basta mobiliar o mundo

Entendo que para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado possível. Constrói-se um rio e na margem esquerda coloca-se um pescador, e, se esse pescador possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se começar a escrever. Que faz um pescador? Pesca. E depois? Ou há peixes que mordem a isca ou não há. Se há, o pescador os fisga e vai para casa todo contente. Fim da história. Se não há, como ele é temperamental, talvez se irrite, talvez quebre a vara de pescar. Não é muita coisa, mas já é um esboço. Mas existe um provérbio indiano que diz "senta-te à beira do rio e espera, o cadáver do teu inimigo não tardará a passar". E se, levado pela correnteza, passasse um cadáver? Não se pode esquecer que o meu pescador tem uma folha penal suja. Quererá correr o risco de meter-se na enrascada? Fugirá, fingindo não ver o cadáver? Temperamental como é, ficará furioso por não ter realizado ele próprio a sonhada vingança? Como se vê, bastou mobiliar nosso mundo e já se tem o início de uma história. O problema é construir o mundo, as palavras virão quase por si sós.
(Texto adaptado de Pós-Escrito a O Nome da Rosa, Umberto Eco, Ed. Nova Fronteira, tel. (21) 2537-8770)